Título do original em inglês: Studies in Christian Education Publicado originalmente em 1915 e republicado em 1952 para classes apresentadas na escola Madison. © 2016 Adventist Pioneer Library 37457 Jasper Lowell Rd Jasper, Oregon, 97438, USA +1 (877) 585-1111 www.APLib.org www.EditoraDosPioneiros.com.br Apoio: Centro de Pesquisas Ellen G. White – Brasil Tradução: César Pagani, Naomi Vidal, Cecília Eller Revisão e editoração: Uriel Vidal e Neumar de Lima Agosto de 2016 ISBN: 978-1-61455-023-5 “Agora, como nunca antes, precisamos compreender a verdadeira ciência da educação. Se deixarmos de compreender isso, jamais teremos lugar no reino deDeus.” Estudos em E. A. Sutherland Edward Alexander Sutherland (1865-1955)
Índice Prefácio à Edição de 2015 7 Prefácio Original 9 1. O Início da História da Educação nos Estados Unidos 11 2. A História da Reforma Educacional Antes de 1844 25 O Lugar da Bíblia na Educação 26 Os Clássicos Seculares Antigos e Modernos 29 Cursos Eletivos de Estudo e Conferição de Títulos Acadêmicos 31 Competição, Distinções e Recompensas 37 Reformas na Alimentação 38 Localização Apropriada de Escolas e Vida Campestre para os Estudantes 42 Simplicidade nos Edifícios 45 Treinamento Manual e Prático na Educação 49 Trabalho Manual Substituído por Atletismo, Esportes e Jogos 58 Democracia Cristã e Autonomia dos Estudantes 60 Treinando Missionários no Sustento Próprio – Um Movimento Missionário Leigo 66 Seleção e Treinamento de Professores 82 3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia 89 4. Princípios Educacionais 113 5. Matérias Práticas para o Currículo 119 Apêndice 125 Apêndice A – A Escola de Madison 127 6 | Estudos em Educação Cristã Capítulo 1 – Incentivem os Obreiros 127 Capítulo 2 – A busca de um local 128 Capítulo 3 – A compra de uma propriedade 130 Capítulo 4 – Um Sanatório no Campo 132 Capítulo 5 – Trabalhando em Unidade e em Fé 136 Capítulo 6 – Carta a um Presidente de Associação 140 Capítulo 7 – Carta à Comissão da União do Sul 141 Capítulo 8 – Uma educação missionária 143 Apêndice B – Apelo em Prol da Escola de Madison 149 O Caráter da Obra 149 A Necessidade de um Sanatório 150 O Valor de uma Educação Completa 150 Um Chamado à Negação do Eu 150 A Obra em Madison Não Deve Ser Impedida 151 Apêndice C – O Trabalho da Escola de Madison 153 Apêndice D – Palavras de Encorajamento para Obreiros de Sustento Próprio 157 Instruções Recentes Acerca das Escolas no Sul 167 Acerca da Obra no Sul 170 Frases Incisivas de Testemunhos Mais Antigos 173 Apêndice E – Carta de A. W. Spalding 177 Prefácio à Edição de 2015 Fiquei emocionada e muito contente ao saber que pessoas que estão numa outra parte do mundo, vivendo num tempo muito diferente, estão encontrando desafios, instrução e bom companheirismo cristão neste livro escrito por meu avô, Edward Alexander Sutherland. Eu cresci me sentindo privilegiada, seguindo nas pegadas dos fiéis de Deus, feliz por ser a neta de E. A. Sutherland. Desde cedo soube que meu avô havia retornado à escola para cursar medicina “com a idade de quarenta anos”, enquanto continuava a dirigir a escola em Madison. Sabia também que ele e Percy Magan haviam feito isso juntos, indo e voltando de motocicleta! Ele passou sua vida em Madison, enquanto eu morava em Pasadena, Califórnia. Em nossa casa, ele era conhecido por todos como E. A., exceto por minha mãe, Yolanda Sutherland Brunie, que costumava se referir a ele como “meu pai”. Não fizemos muitas viagens durante a Segunda Guerra Mundial. Mas havia algumas chamadas telefônicas que fazíamos e recebíamos, de modo que, tanto E.A., quanto a escola de Madison, sempre faziam parte de nossa realidade. Minhas lembranças mais remotas de ter estado com ele datam da época quando ele e minha avó, Sally Brailier Sutherland, nos visitaram aqui depois da guerra. Mais tarde, minha mãe e eu viajamos de carro para passar uma semana lá no Tennessee com a família dela, e ficamos na fazenda do seu irmão, na casa do meu tio Joe, perto de Madison. Nesse tempo, meu avô, o Dr. E. A., também morava lá com Joe e sua família. Naquela época, em julho de 1952, eu estava cursando a faculdade em La Sierra (hoje a Universidade de La Sierra) e tinha muito mais interesse em sentar-me e conversar longamente com E. A. sobre passagens da Bíblia, sobre suas convicções a respeito de múltiplas áreas e, especialmente, sobre a influência que Ellen White exerceu no processo de decisão acerca da propriedade em Madison, com o objetivo de estabelecer-se uma escola. E. A. me marcou com sua paixão pela busca da 8 | Estudos em Educação Cristã bondade, sua energia para investir em viver o momento presente, e seu aspecto forte, amigável e caloroso. Sou muito grata pelas pessoas que, desde aquela época, têm mantido viva a presença de muitos de nossos líderes fundadores por meio de seus escritos históricos. Que Deus abençoe a todos que fizerem uso deste livro. Barbara Brunie Jones Maio de 2015 Prefácio Original Em seus estudos sobre os campos de atividade missionária no Instituto Padrão e Agrícola de Nashville [Nashville Agricultural and Normal Institute], o Grupo de Estudantes Voluntários teve o privilégio de assistir a uma série de estudos feitos pelo Dr. E. A. Sutherland, diretor da instituição, revelando o fato de que as grandes denominações protestantes fracassaram em dar a mensagem do primeiro anjo em sua plenitude por não terem se libertado do sistema papal de educação. O fato de aderirem a esse sistema lançou-as afinal em confusão. A denominação Adventista do Sétimo Dia veio à existência por causa dessa falha, e cabe a ela ser bem-sucedida onde outros falharam. Seu direito de primogenitura, como denominação, é um grande movimento de reforma, o maior que o mundo já conheceu. O Senhor tem falado a nosso povo que, como indivíduos, estamos em grande perigo de sofrer a mesma derrota que as grandes denominações padeceram, porque ainda nos mantemos ligados a métodos mundanos de educação. Elas falharam em dar o clamor da meia-noite em virtude de seu errôneo sistema educacional. Estamos prestes a entrar no período da chuva serôdia. Esperamos que as páginas que se seguem possam ser lidas com seriedade e oração. 10 | Estudos em Educação Cristã 1. O Início da História da Educação nos Estados Unidos A igreja que triunfa é aquela que quebra o jugo da educação mundana, e desenvolve e pratica os princípios da educação cristã. “Agora, como nunca antes, precisamos compreender a verdadeira ciência da educação. Se deixarmos de compreender isso, jamais teremos lugar no reino de Deus” (Ellen G. White, Christian Educator, 1º de agosto de 1897). “A ciência da verdadeira educação é a verdade. ... A mensagem do terceiro anjo é verdade” (Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, Vol. 6, p. 131). Admite-se como verdadeiro que todos os adventistas do sétimo dia creem que a educação cristã e a mensagem do terceiro anjo sejam a mesma verdade. As duas são tão inseparáveis como as raízes, o tronco e os ramos de uma árvore. O propósito destes estudos é proporcionar melhor compreensão das razões do declínio e queda moral das denominações protestantes no tempo do clamor da meia-noite, em 1844, e ajudar-nos, como adventistas do sétimo dia, a evitar esses erros à medida que nos aproximamos do alto clamor do terceiro anjo, que em breve soará sobre o mundo. Uma breve pesquisa da história das denominações protestantes mostra que sua queda espiritual em 1844 foi resultado do fracasso em “compreender a verdadeira ciência da educação”. O fracasso em entender e praticar a educação cristã incapacitou-as para a proclamação a todo o mundo da mensagem da segunda vinda de Cristo. A denominação adventista do sétimo dia foi então chamada à existência para assumir a obra que as igrejas populares haviam deixado de cumprir por não terem dado a seus missionários a devida formação. As denominações protestantes não estavam em condições de dar a mensagem do terceiro anjo — um movimento de reforma — que constitui uma advertência contra a besta e sua imagem, e isso porque ainda estavam apegadas às doutrinas e aos princípios educacionais que, em essência, formam a besta e sua imagem. É importante que os jovens adventistas do 12 | Estudos em Educação Cristã sétimo dia estudem seriamente as causas do declínio espiritual dessas igrejas, ocorrido em 1844, para não repetirmos sua história e ficarmos fora do alcance do Espírito de Deus, perdendo assim nosso lugar no reino. Se, como adventistas do sétimo dia, quisermos ser bem-sucedidos onde essas denominações fracassaram, precisamos ter um sistema de educação que repudie os princípios que, por sua própria natureza, desenvolvem a besta e sua imagem. “Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para advertência nossa, sobre quem os fins dos séculos têm chegado”. O protestantismo, nascido no século XVI, estava prestes a perder sua luz na Europa. Deus então preparou uma nova terra, que se tornaria, no futuro, os Estados Unidos da América, como berço para a proteção e desenvolvimento de corretos princípios que permitiriam que, a partir desse país, fosse proclamada a mensagem mundial e final do retorno do Salvador. “Foi o desejo de liberdade de consciência que inspirou os peregrinos a enfrentar os perigos da longa jornada através do mar, a suportar as agruras e riscos das selvas e lançar, com a bênção de Deus, nas praias da América do Norte, o fundamento de uma poderosa nação... A Escritura Sagrada era tida como fundamento da fé, a fonte da sabedoria e a carta da liberdade. Seus princípios eram diligentemente ensinados no lar, na escola e na igreja, e seus frutos se faziam manifestos na economia, inteligência, pureza e temperança... Estava demonstrado que os princípios da Bíblia constituem a mais segura salvaguarda da grandeza nacional” (O Grande Conflito, p. 292, 296). Esses reformadores, ao chegarem à América, renunciaram às doutrinas papais na igreja e no estado, mas conservaram o sistema papal de educação. “Conquanto os reformadores rejeitassem o credo de Roma, não estavam inteiramente livres de seu espírito de intolerância. ... Os reformadores ingleses, conquanto renunciassem às doutrinas do romanismo, retiveram muitas de suas formas. [Alguns] olhavam para eles como distintivos da escravidão de que haviam sido libertados, e para a qual não se sentiam dispostos a voltar. ... Muitos desejavam fervorosamente voltar à pureza e simplicidade que caracterizavam a igreja primitiva. ... ‘A Inglaterra estava deixando de ser para sempre um lugar habitável.’ Alguns resolveram, por fim, buscar refúgio na Holanda. Encararam dificuldades, prejuízos e prisão. ... Em sua fuga, deixaram casas, bens e meios de vida. ... Animadamente, porém, enfrentaram a situação, e não perderam tempo em ociosidade ou murmurações. ... ‘Sabiam que eram peregrinos.’ ... Em meio ao exílio e agruras, cresciam o amor e a fé. Confiavam nas promessas 1. O Início da História da Educação nos Estados Unidos | 13 do Senhor, e Ele não faltava com elas no tempo de necessidade. ... E, quando a mão de Deus pareceu apontar-lhes através do mar uma terra em que poderiam fundar para si um Estado e deixar a seus filhos o precioso legado da liberdade religiosa, seguiram eles, sem se arrecear, pela senda da Providência. ... Os puritanos se uniram em solene concerto como povo livre do Senhor ‘para andar em todos os Seus caminhos por eles conhecidos ou a serem conhecidos.’ Ali estava o verdadeiro espírito da Reforma, o princípio vital do protestantismo” (O Grande Conflito, p. 289, 290, 291). O sistema educacional da igreja, que os havia expulsado de sua terra natal, representava um dos mais graves erros dos quais os puritanos falharam em libertar-se. Esse sistema educacional, embora papal em espírito, era, em certo sentido, protestante em sua forma. Um historiador escreveu sobre as escolas puritanas do Novo Mundo, relatando que seus cursos eram “ajustados ao currículo tradicional da faculdade. Eles ensinavam muito latim e grego, davam um curso extensivo de matemática, e, no geral, eram fortes no setor das ciências humanas. ... Esse currículo refletia o modelo de escolas como Rugby Eton e outras notáveis escolas inglesas” (Richard G. Boone, Education in the United States, p. 71 [1889]). Lemos novamente: “As raízes desse sistema estavam aprofundadas no grande sistema eclesiástico”. “Desde o início de seu treinamento”, Dunster, um dos primeiros presidentes de Harvard, “adequou o curso dessa universidade em grande parte segundo o modelo das universidades inglesas”. Eles seguiram tão fielmente o modelo inglês — o da Universidade de Cambridge — que até foram chamados por esse nome. Um historiador, escrevendo sobre Harvard, disse: “Em vários casos, os jovens ingleses eram enviados para a Cambridge americana para completar sua educação”. Boone, discorrendo acerca dos cursos de estudo na escola de Ensino Superior de William e Mary1 , antes da Revolução, afirma: “Todos eram segundo o padrão inglês”. Acerca de Yale, fundada posteriormente, é dito: “As normas em sua maior parte seguiam o modelo de Harvard, bem como os cursos ministrados”. As universidades mais jovens seguiam o padrão das mais antigas. É muito natural que Yale fosse estabelecida de acordo com o sistema papal inglês, porque seu fundador, Elihu Yale, havia passado 20 anos em escolas inglesas, segundo confirma o historiador citado: “Vinte anos ele passou nas escolas e em estudos especiais” (Ibid., p. 24-40). 1 N.T.: Esta escola, depois de Harvard, é a segunda instituição de Ensino Superior mais antiga dos Estados Unidos da América, fundada em 1693. 14 | Estudos em Educação Cristã Os adventistas do sétimo dia não deveriam permitir que esse fato passasse despercebido: As três principais escolas das colônias foram estabelecidas por homens que haviam fugido das doutrinas papais do Velho Mundo; mas esses educadores, por causa de sua educação nessas escolas papais e de sua ignorância quanto à relação entre educação e religião, inconscientemente moldaram suas instituições segundo o sistema educacional da igreja da qual haviam saído. É surpreendente que esses reformadores ingleses, depois de tanto se sacrificarem por uma causa digna, tenham permitido que um sistema de educação tão inapropriado aos seus propósitos se tornasse, em realidade, a progenitora de seus filhos, de cujo seio essas crianças extrairiam sua alimentação. Eles não se deram conta de que o caráter e a experiência cristã desses pequenos dependiam da natureza do alimento recebido. Houvessem eles compreendido a relação da educação da criança e sua experiência futura com a igreja, eles não teriam tomado emprestado o sistema papal de educação, mas o teriam rejeitado por completo como excessivamente perigoso para ser tolerado dentro dos limites do protestantismo. Alguns fatos da história educacional deixarão evidente a afirmação de que o sistema de educação de Oxford, Cambridge, Eton and Rugby era papal, e que os reformadores da Nova Inglaterra, moldando suas escolas segundo esse padrão, estavam implantando o sistema papal de educação na América. Laurie diz: “Oxford e Cambridge modelaram-se grandemente segundo o sistema de Paris... Um grande número de professores e alunos deixaram Paris... Assim, o contingente inglês da Universidade (de Paris) foi para Oxford e Cambridge”. A relação da Universidade de Paris, mãe de Cambridge e Oxford, com o papado foi assim expressa: “Foi por ser o centro do aprendizado teológico que ela recebeu tantos privilégios por parte do papa, e manteve-se em íntima relação com a Sé papal” (Simon S. Laurie, The Rise and Early Constitution of Universities, p. 153, 162, 242). Lutero e Melanchthon, os grandes reformadores do século XVI, entenderam claramente que era impossível ter uma reforma religiosa permanente sem a educação cristã. Assim, eles não somente se precaveram contra as doutrinas do papado, mas também desenvolveram um vigoroso sistema de escolas cristãs. Melanchthon disse: “Negligenciar os jovens em nossas escolas é como retirar a primavera dentre as estações do ano. Os que permitem que as escolas entrem em declínio estão, de fato, tirando a primavera do ciclo anual das estações, pois a religião não pode sub- 1. O Início da História da Educação nos Estados Unidos | 15 sistir sem elas”. “Melanchthon constantemente dirigia seus esforços no sentido de fazer progredir a educação e edificar boas escolas cristãs. ... Na primavera de 1525, com a ajuda de Lutero, ele reorganizou as escolas de Eisleben e Madgeburg”. Ele declarou: “A causa da verdadeira educação é a causa de Deus” ( Joseph Stump, Life of Philipe Melanchton, p. 81). “Em 1528, Melanchthon preparou o ‘Plano da Escola da Saxônia’, que serviu como base para a organização de muitas escolas em toda a Alemanha”. Esse plano tratava da questão da “multiplicidade de estudos que eram não apenas infrutíferos, mas até mesmo maléficos. ... O professor não deveria sobrecarregar as crianças com muitos livros” (F. V. N. Painter, A History of Education, p. 152). Esses reformadores perceberam que a força da igreja papal jazia em seu sistema educacional, e deram nele um golpe esmagador; e ao ferir tal sistema, fizeram com que a igreja perdesse seu poderio. Os reformadores estabeleceram um sistema de escolas cristãs que tornaram as crianças verdadeiramente protestantes. Essa maravilhosa revolução na educação e na religião foi completada em uma geração, no breve espaço da vida de um homem. Para se ter uma ideia do poder desse grande movimento educacional cristão, um historiador, falando sobre várias nações europeias, afirmou: “A nobreza daquele país estudava em Wittenberg — todos os colé- gios da terra estavam repletos de protestantes... Não mais que a trigésima parte da população conservou-se católica... Eles também retiraram seus filhos das escolas [católicas]. ... Os habitantes de Mainz não hesitaram também em enviar seus filhos para as escolas protestantes. ... O pensamento protestante comunicou suas vivificantes energias aos mais remotos e esquecidos cantos da Europa. Que domínio imenso eles haviam conquistado dentro do espaço de quarenta anos. ... Vinte anos se passaram em Viena desde que o último aluno da Universidade fizera seus votos sacerdotais... Por volta desse período, os professores na Alemanha, quase sem exceções, eram todos protestantes. Toda essa nova geração se assentava a seus pés e assimilava o ódio ao papa enquanto estudavam os primeiros rudimentos do aprendizado” (Leopold Von Ranke, History of the Popes, Their Church and State, in the Sixteenth and Seventeenth Centuries, 1844, p. 164-167). Após a morte de Lutero e Melanchthon, os teólogos, em cujas mãos a obra de reforma foi posta, em lugar de multiplicar as escolas cristãs, se absorveram com os meros tecnicismos da teologia e ignoraram a maior 16 | Estudos em Educação Cristã obra de sua época. Venderam sua primogenitura por um prato de lentilhas. Quando os sucessores de Lutero e Melanchthon deixaram de levar adiante essa obra eficiente, que se centralizava grandemente na educação da juventude de onde sairiam os futuros missionários e pilares da igreja, surgiram dissensões internas. Seu tempo era dispensado em grande parte em criticar os pontos de vista de alguns colaboradores que diferiam deles em certos importantes pontos teológicos. Desse modo, tornaram-se destruidores em vez de construtores. Deram muita atenção às doutrinas e gastaram a maior parte de sua energia na preservação da ortodoxia. Cristalizaram sua doutrina em um credo; pararam de se desenvolver e perderam o espírito da educação cristã, que era o azeite de suas lâmpadas. O protestantismo degenerou-se em ortodoxia morta, e se dividiu em facções oponentes. A igreja protestante, assim enfraquecida, não poderia resistir ao grande poder da rejuvenescida educação papal. O sucesso dos reformadores deveu-se ao direcionamento dos jovens através do sistema educacional. As escolas papais foram quase abandonadas durante o período de atividade de Lutero e Melanchthon. Mas quando morreram e seus sucessores se tornaram mais interessados em teologia abstrata do que na educação cristã, despendendo seu tempo, energia e o dinheiro da igreja em pregar e escrever sobre teologia abstrata, o sistema escolar papal, recuperando-se, ergueu-se para travar uma luta de vida ou morte com a igreja protestante. O papado percebeu que a própria existência da igreja papal dependia de sua vitória sobre as escolas protestantes. Ficamos surpresos diante da habilidade e tato que os educadores papais usaram em seu ataque, e a rapidez com que alcançaram a vitória. Essa experiência deveria ser uma contínua lição objetiva aos adventistas do sétimo dia. Uma escola cristã impulsionada pelo espírito papal: — Os olhos dos sucessores de Lutero e Melanchthon estavam cegos. Não compreendiam “a verdadeira ciência da educação”. Não viram sua importância e não entenderam como o caráter depende da educação. “O verdadeiro objetivo da educação é restaurar a imagem de Deus na alma” (Christian Education, p. 63). Satanás tirou vantagem dessa cegueira para induzir alguns de seus próprios educadores, como lobos em pele de ovelha, a destruir o rebanho. O principal desses foi John Sturm, que, aos olhos desses reformadores cegos, era considerado um bom protestante. Sturm introduziu praticamente todo o sistema papal de educação nas escolas protestantes de Strasbourg. E pelo fato de 1. O Início da História da Educação nos Estados Unidos | 17 professar simuladamente o protestantismo, os sucessores de Lutero olhavam com favor todas as suas manobras educacionais. Ele era considerado, pelos assim chamados reformadores, como o maior educador de seu tempo, e sua escola tornou-se tão popular entre os protestantes que foi tomada como modelo para as escolas protestantes da Alemanha. Sua “influência estendeu-se à Inglaterra e, de lá, à América. ... ‘Quem quer que esteja familiarizado com a educação ministrada em nossas principais escolas clássicas, como Eton, Winchester e Westminster, há quarenta anos, não deixará de perceber que seu currículo foi formado em grande parte sob o modelo de Sturm’”. O historiador diz que era a ambição de Sturm “reproduzir a Grécia e Roma no meio da moderna civilização cristã” (A History of Education, p. 162). Esse lobo educacional, vestido com lã cristã, fez grandes incursões em meio aos cordeiros do rebanho e tornou possível a vitória papal. O mais perigoso de todos os inimigos numa igreja é sua própria escola que, ao mesmo tempo que professe ser cristã, possui “professores e administradores que são apenas meio-convertidos”; que estão “acostumados aos métodos populares”; que “aceitam alguns pontos e fazem reformas pela metade; ... preferindo trabalhar segundo as próprias ideias” (Testemunhos para a Igreja, Vol. 6, p. 141), que passo a passo avançam rumo à educação mundana, levando consigo inocentes cordeiros. No dia do juízo, haverá mais misericórdia para o homem que se tem mostrado frio e inimigo declarado de algum movimento de reforma, do que para aquele que professa ser um pastor de ovelhas, mas que não passa de um lobo vestido de cordeiro, o qual engana as ovelhas até se tornarem incapazes de se salvar. Esse é o golpe de mestre satânico para subverter a obra de Deus no mundo, e não há nenhuma outra influência mais difícil de ser neutralizada. Nenhuma outra forma de mal é tão fortemente denunciada: “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca” (Ap 3:15, 16). A escola de Sturm ficou a meio caminho entre as escolas cristãs de Lutero e Melanchthon e as escolas papais ao seu redor. Ela oferecia uma mistura de literatura medieval clássica com uma fatia fina das Escrituras, ensanduichada para causar boa impressão, e aromatizada com as doutrinas da igreja. Seu curso de estudo era impraticável; seus métodos de instrução eram mecânicos; o trabalho de memorização era exaltado; sua forma de administração, arbitrária e empírica. 18 | Estudos em Educação Cristã “Um conhecimento morto de palavras tomou o lugar do conhecimento vivo das coisas. ... Os alunos eram obrigados a aprender, mas não educados a ver e ouvir, a pensar e provar, e não eram conduzidos a uma verdadeira independência e perfeição pessoal. A função dos professores centralizava-se no ensino do texto prescrito, e não no desenvolvimento harmonioso dos jovens segundo as leis da natureza” (A History of Education, p. 156-157). Macaulay, falando desse sistema de educação, acrescenta: “Eles prometiam o impraticável e desprezavam o praticável. Encheram o mundo com longas palavras e compridas barbas, e o deixaram tão ignorante e mau como o encontraram” (Thomas B. Macaulay, “Lord Bacon”, Critical and Historical Essays Contributed to the Edinburgh Review, Vol. 2, 1877, p. 389). Escolas Jesuítas: — Este estudo tem o propósito de tornar claro que os professores protestantes debilitaram e tornaram a denominação protestante despreparada contra o ataque feito pelo papado por meio do sistema oposto de educação introduzido por Loyola, fundador da ordem dos jesuítas. Antes disso, a igreja católica estava consciente de sua impotência em resistir ao grande movimento do protestantismo, inaugurado por milhares de missionários preparados nas escolas cristãs de Lutero e Melanchthon. Notando o retorno da igreja protestante à ortodoxia morta sob a liderança ineficiente dos sucessores de Lutero, o papado reconheceu o ponto vulnerável no protestantismo. A ordem dos Jesuítas tinha como missão especial combater a Reforma. Como o meio mais eficaz de deter o progresso do protestantismo, essa ordem visou a controlar a educação. “Ela desenvolveu uma imensa atividade educativa” em países protestantes, “e suas escolas alcançaram grande reputação... Mais do que qualquer outra agência, ela trouxe obstáculos ao progresso da Reforma, e ainda conseguiu reconquistar territórios antes conquistados pelo protestantismo. ... Ela trabalhou principalmente por meio de suas escolas, as quais estabeleceu e controlou em grande número. .... Cada membro da ordem tornou-se um professor competente e prático” (A History of Education, p. 167-169). Os seguintes métodos de ensino eram característicos das escolas jesuítas: “A memória era cultivada como meio de reprimir a livre atividade do pensamento e a clareza de julgamento”. Em lugar de autogoverno, seu método de disciplina era “um sistema de mútua desconfiança, espionagem 1. O Início da História da Educação nos Estados Unidos | 19 e denúncia. Implícita obediência desobrigava os alunos de toda responsabilidade quanto à justificação moral de suas ações” (Karl Rosenkranz, The Philosophy of Education, p. 270-271). “Os jesuítas davam muita importância à competição. ... ‘Aquele que sabe como estimular o espírito de competividade encontrou o mais poderoso auxílio em seu ensino. Nada mais honroso do que superar um colega, e nada mais desonroso do que ser superado. Prêmios serão entregues aos melhores alunos e com a maior solenidade possível.’... Procuravam-se resultados ostensivos com os quais deslumbrar o mundo. Um desenvolvimento harmonioso não tinha valor. ... ‘Os jesuítas não visavam ao desenvolvimento de todas as faculdades de seus alunos, mas apenas as capacidades receptivas e reprodutivas. [Quando um aluno] dava demonstração brilhante dos recursos de uma memória bem abastecida, ele havia então alcançado o máximo desenvolvimento ao qual os jesuítas procuravam levá- lo. Originalidade e independência de espírito, o amor da verdade em si, a capacidade de refletir e formular juízos corretos não foram simplesmente negligenciados, mas de fato suprimidos pelo sistema jesuíta.’” (A History of Education, p. 171-173). “O sistema jesuíta de educação ... foi notadamente bem-sucedido e, por um século, quase todos os homens mais importantes da cristandade vieram de escolas jesuítas” (The Philosophy of Education, p. 271). O sucesso das escolas jesuítas. — Com referência ao sucesso do sistema educacional jesuíta em conquistar os protestantes descuidados e indiferentes, lemos: “Eles levaram adiante seus propósitos”. Lançaram sombras sobre as escolas protestantes e, como um parasita, sugaram-lhes a vida. “Seus trabalhos foram, acima de tudo, voltados às universidades. ... Os protestantes tiraram seus filhos de escolas distantes e os colocaram sob os cuidados dos jesuítas. ... [Os jesuítas] ocupavam a cátedra dos professores. ... Eles conquistaram os alemães em seu próprio solo, em seu próprio lar, e arrancaram deles parte de sua terra natal” (History of the Popes, Their Church and State, p. 170-172). Esse triunfo rapidamente se estendeu a quase todos os países europeus. Eles conquistaram a Inglaterra ao levarem a juventude inglesa a Roma, educando esses jovens em escolas jesuítas e enviando-os de volta a sua terra natal como missionários e professores. Assim, eles se estabeleceram nas escolas da Inglaterra. Os jesuítas também se espalharam pelo Novo Mundo, e ali se estabeleceram completamente, e, desde então, vêm empregando seus métodos característicos. Aqui [nos Estados Unidos], como em outros lugares, seu único propósito é “alcançar o monopólio da educação 20 | Estudos em Educação Cristã para que, tendo os jovens em suas mãos, possam moldá-los segundo seu próprio padrão” (Richard E. Thompson, Footprints of the Jesuits, p. 419). “Dentro de cinquenta anos, a partir do dia em que Lutero queimou a bula de Leão X diante das portas de Wittemberg, o protestantismo alcançou seu clímax de predomínio, uma conquista que logo foi perdida e que nunca conseguiu recuperar” (Thomas B. Macaulay, “Essay on Von Ranke’s History of the Popes”, The Edinburgh Review, p. 236, 237). “Como foi que o protestantismo obteve tamanho progresso e, então, deixou de avançar? Como foi que a igreja de Roma, depois de ter ficado sem a posse de grande parte da Europa, não apenas parou de perder, mas realmente recuperou quase metade do que havia perdido? Esta certamente é uma pergunta muito curiosa e importante” (Ibid., p. 227). Já tivemos a resposta, mas ela é melhor enunciada por Macaulay, que entendeu o papel desempenhado pelas escolas jesuítas fundadas por Loyola: “Foi o celebrado Inácio de Loyola que, na grande contrarreforma, desempenhou a mesma parte que Lutero exercera no grande movimento protestante. Foi aos pés desse jesuíta que os jovens das classes média e alta foram educados desde a infância até a idade adulta, começando com os primeiros rudimentos até chegar aos cursos de retórica e filosofia... A poderosa ordem saiu vencendo e para vencer... Seu primeiro objetivo era não permitir que nenhuma pessoa saísse de sob o manto da igreja” (Ibid., p. 240, 241). A caça à heresia derrota a causa protestante: — Macaulay fornece as causas para essa derrota do protestantismo e para o sucesso do papado: “A guerra entre Lutero e Leão X foi uma guerra entre a firme fé e a incredulidade; entre o zelo e a apatia; entre a energia e a indolência; entre a seriedade e a frivolidade; entre a moral pura e o vício. Muito diferente foi a guerra que o protestantismo degenerado teve de travar contra o catolicismo regenerado”, [que se tornou possível graças ao sistema educacional jesuíta] (Ibid., p. 244, 245). “Os reformadores tinham contraído algumas das corrupções que haviam sido justificadamente censuradas na igreja de Roma. Haviam se tornado mornos e mundanos. Seus antigos grandes líderes haviam baixado à sepultura e não deixaram sucessores... Em todos os cantos do protestantismo vemos fraqueza; em todos os cantos do catolicismo vemos ardor e devoção. Quase todo o zelo dos protestantes foi dirigido uns contra os outros. Dentro da Igreja Católica não havia sérias disputas sobre pontos de doutrina... Por 1. O Início da História da Educação nos Estados Unidos | 21 outro lado, a força que deveria ter sido usada na batalha da Reforma estava exaurida por conflitos civis” (Ibid., p. 245). O papado aprendeu uma amarga lição no trato com os hereges. Desde a reforma, ele conserva sua força pondo-os a trabalhar. Macaulay afirma: “Roma compreende completamente o que nenhuma outra igreja jamais entendeu: como lidar com os entusiastas... A Igreja Cató- lica não se submete ao entusiasmo, nem o prescreve, mas o usa... Ela, portanto, os alista [os entusiastas] em seus serviços... Para um homem com tal mentalidade [entusiasta], não há lugar no seio das igrejas protestantes ortodoxas tradicionais. Tal homem nunca frequentou a universidade; ... alguém lhe diz então que, para permanecer na comunhão da igreja, ele deve ser apenas um ouvinte e que, se está decidido a ser um líder, precisa começar sendo um separatista [herege]. Sua decisão é logo tomada; ele faz um discurso estrondoso em Tower Hill ou em Smithfield. Uma congregação é formada e dentro de poucas semanas a igreja [protestante] terá perdido centenas de famílias” (Ibid., p. 247-249). O papado foi mais sábio que os protestantes em lidar com aqueles que se tornaram um pouco instáveis em seus pontos de vista. Ele dedicou pouco tempo em julgamentos eclesiásticos. Em vez de tentar forçá-los a sair da igreja, ele direcionou seus esforços. “Enquanto a Igreja da Inglaterra estigmatiza o entusiasta ignorante... como um inimigo dos mais perigosos, a Igreja Católica faz dele um campeão. Ela pede que ele deixe crescer a barba, o cobre com um hábito e capuz de tecido grosso e escuro, amarra uma corda na sua cintura e o envia para ensinar em seu nome. Ele nada custa a ela. Ele não recebe um tostão do clero regular. Passa a viver das esmolas daqueles que respeitam seu caráter espiritual e são gratos por suas instruções... Toda essa influência é empregada para fortalecer a igreja... Dessa forma, a igreja de Roma reúne em si toda a força da organização religiosa e toda a força da dissidência. ... Coloque Inácio de Loyola em Oxford. É certo que ele virá a se tornar o chefe de uma cisão formidável. Coloque John Wesley em Roma. É certo que ele virá a ser o primeiro general de uma nova sociedade dedicada aos interesses e honra da igreja” (Ibid., p. 249-250). A igreja de Roma, desde o seu rejuvenescimento, está literalmente repleta de soldados zelosos, entusiastas e determinados, que nada sabem senão viver, ser usados e morrer pela igreja. Ela está determinada a trazer as 22 | Estudos em Educação Cristã denominações protestantes de volta ao seu seio humilhadas, arruinadas e completamente subjugadas. Em toda parte, na pessoa de professores jesuí- tas, editores e funcionários públicos, ela possui pessoas trabalhando com o objetivo de moldar o sentimento público, alcançar as posições governamentais de importância e controle, e, acima de tudo, por meio de seus professores, obter o controle das mentes de crianças e jovens protestantes. Ela valoriza e utiliza este princípio perene: “Ensina a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele”. Os católicos dizem: “Deixem-nos ensinar uma criança até os doze anos e ela sempre permanecerá católica”. Agora podemos compreender melhor por que os reformadores ingleses não entenderam o caráter e o perigo do sistema escolar operante em Cambridge, Oxford, Eton e Westminster, e involuntariamente implantaram esse sistema de ensino nas praias de seu novo lar [a América] e em cada uma de suas escolas cristãs. Eles ignorantemente o promoveram e o disseminaram; e seus sucessores, como os sucessores de Lutero e Melanchthon, tornaram-se tão contaminados com o espírito de Roma que, por volta de 1844, as igrejas protestantes estavam moralmente como sua mãe. Com isso delineamos as raízes que produziram a árvore da educação nos Estados Unidos. Embora Harvard, a primeira escola da Nova Inglaterra, “não passasse de uma escola para formação de ministros”, e “a Bíblia fosse sistematicamente estudada”, é evidente para todo estudante dos cursos de Harvard que, além do ensino bíblico, seu currículo foi estabelecido segundo os moldes de Eton, Rugby e outras notórias escolas inglesas, todas baseadas no sistema de Sturm. Yale, William e Mary e outras instituições dos Estados Unidos foram modeladas conforme esse sistema. Vejam a América protestante instruindo suas crianças em escolas estabelecidas segundo o sistema educacional papal de Sturm. O segredo da rejeição das denominações protestantes em 1844 se encontra na história educacional que acabamos de relatar. Vemos que, embora se apegassem às formas do protestantismo, seu sistema educacional incutia continuamente no aluno a vida do papado. Isso produziu um estilo de protestantismo imbuído do espírito papal. O nome disso é Babilônia. Não deveriam nossos estudantes questionar seriamente o caráter do sistema educacional a que estão sujeitos, a fim de que não se encontrem em companhia das cinco virgens loucas que são rejeitadas no tempo do alto clamor, assim como 1. O Início da História da Educação nos Estados Unidos | 23 as grandes igrejas cristãs foram rejeitadas no tempo do clamor da meia-noite, porque não compreenderam a “verdadeira ciência da educação?” Elas não “entraram na linha da verdadeira educação”, e rejeitaram a mensagem. Certas ideias divinas de reforma no governo civil foram recebidas de Deus por alguns homens neste país, durante os dias da ferida mortal do papado. Esses homens ousaram ensinar e praticar essas verdades. Eles promoveram os verdadeiros princípios de governo civil, de tal forma que a mensagem do terceiro anjo poderia ser transmitida sob sua proteção. Mas o sistema papal de educação, como praticado pelas igrejas protestantes, representou constante ameaça a essa reforma civil, porque as igrejas não estavam dispostas a romper com o clássico rumo medieval baseado na concessão de títulos e honrarias — sem os quais se torna difícil a prosperidade da aristocracia e do imperialismo, quer na igreja ou no estado. Contudo, apesar do fracasso das igrejas em romper com esse sistema, os reformadores civis repudiaram todas as coroas, títulos e honras que teriam perpetuado a aristocracia e o imperialismo europeus. As igrejas, pelo fato de ainda se apegarem ao sistema de ensino papal, tornaram-se responsá- veis, não apenas pelo espírito do papado dentro de si mesmas, mas também pelo retorno do imperialismo agora tão claramente manifesto em nosso governo, e especialmente notável em tendências para a centralização, como os monopólios, cartéis e sindicatos. O ano de 1844 foi um dos períodos mais críticos da história da igreja desde os dias dos apóstolos. O dedo da profecia, por séculos, já vinha apontando para aquele ano. Todo o Céu estava interessado no que em breve aconteceria. Anjos trabalhavam com intenso interesse por aqueles que professavam ser seguidores de Cristo, a fim de prepará-los para aceitar a mensagem que naquela época devia ser pregada ao mundo. Mas a história relatada acima mostra que as denominações protestantes apegaram-se ao sistema educacional emprestado do papado, que os tornou inaptos a receber ou dar a mensagem. Por isso, foi-lhes impossível preparar homens para proclamá-la. Em 1844, o mundo estava se aproximando do grande Dia da Expiação do santuário celestial. Antes dessa data, a história registra um movimento educativo cristão e um despertamento religioso notáveis. As igrejas populares estavam se aproximando rapidamente de seu teste crucial. E Deus sabia que lhes era impossível transmitir de modo aceitável a mensagem final, a menos que entrassem “na linha da verdadeira educação” — 24 | Estudos em Educação Cristã e tivessem uma compreensão clara da “verdadeira ciência da educação”. Estas palavras lhes eram aplicáveis: “Agora, como nunca antes, precisamos compreender a verdadeira ciência da educação. Se deixarmos de compreender isso, jamais teremos lugar no reino de Deus” (Ellen G. White, Christian Educator, 1º de agosto de 1897). O que as igrejas protestantes enfrentaram em 1844, nós, adventistas do sétimo dia, estamos enfretando hoje. Veremos como as denominações protestantes se opuseram aos princípios da educação cristã e, dessa forma, deixaram de instruir seus jovens para dar o clamor da meia-noite. Jovens adventistas do sétimo dia, milhares dos quais estudando em escolas do mundo, não podem dar-se ao luxo de repetir esse fracasso. Aquele poderoso brado, “Caiu, caiu Babilônia”, produzido pela queda moral das igrejas populares, nunca teria sido dado se elas tivessem permanecido fiéis aos princípios da educação cristã. Se os adventistas do sétimo dia chegarem ao alto clamor com a mesma experiência vivenciada pelos protestantes no período do clamor da meia-noite, também serão como virgens loucas para quem a porta foi fechada. Todas as virgens na parábola de Cristo tinham lâmpadas — as doutrinas —, mas faltava-lhes o amor da verdade que ilumina esses ensinamentos. “A ciência da verdadeira educação é a verdade que deve ser tão profundamente gravada na alma que não se possa apagar pelo erro tão abundante em toda parte. A mensagem do terceiro anjo é verdade, luz e poder” (Testemunhos para a Igreja, Vol. 6, p. 131). Não é a educação cristã, então, a luz das doutrinas? A educação papal falha em acender essas lâmpadas, pois não passa de escuridão. Certamente nossos jovens adventistas do sétimo dia estão vivendo em um tempo solene — tempo em que cada professor neste país, cada aluno e futuros obreiros missionários da igreja devem encarar a situação e definir sua atitude para com os princípios da educação cristã. O fato é que, “antes que possamos levar a mensagem da verdade presente em toda a sua plenitude a outros países, devemos primeiro romper todo jugo. Precisamos entrar na linha da verdadeira educação” (Ellen G. White, “The Madison School”, Special Testimonies, Series B, No. 11, p. 30). “Agora, como nunca antes, precisamos compreender a verdadeira ciência da educação. Se deixarmos de compreender isso, jamais teremos lugar no reino de Deus”. Estamos lidando com uma questão de vida ou morte.
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