3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia A condição das denominações protestantes em 1844 é ilustrada pelas cinco virgens néscias. Quando o clamor da meia-noite foi dado na primavera daquele ano, a maioria dos líderes dessas denominações tomou posição contra ele. Durante os dias de preparação, eles haviam falhado “em compreender a verdadeira ciência da educação”, e não estavam prontos quando o clímax chegou. Alguns de seus próprios reformadores educacionais haviam se esforçado para preparar as denominações para esse grande evento, mas esses homens do ramo educacional sofreram oposição e foram repelidos por seus líderes eclesiásticos. Portanto, os líderes da igreja não estavam prontos para aceitar a mensagem do primeiro anjo. Houvessem as denominações protestantes entrado “na linha da verdadeira educação”, teriam aceito a primeira mensagem angélica. Isso as teria unido num só corpo novamente. “A igreja de novo teria atingido o bendito estado de unidade, fé e amor que existia nos dias apostólicos, em que era um o coração e a alma dos crentes” (O Grande Conflito, p. 379). As denominações populares haviam sido chamadas pelo Senhor para preparar o mundo para a segunda vinda de Cristo. Elas se recusaram a obedecer, e “aproximadamente cinquenta mil se retiraram das igrejas” (Ibid., p. 376). Desse número, surgiram alguns cristãos robustos, ousados e fiéis que se tornaram os fundadores e líderes da Igreja Adventista do Sétimo Dia. A maioria desses líderes vigorosos “tinha pouca instrução escolar”. Eles haviam recebido sua educação “na escola de Cristo, e sua humildade e obediência os tornaram grandes” (Ibid., p. 456). Eles se formaram por esforço próprio e não tiveram necessidade alguma de gastar muito tempo em desaprender a sabedoria assim recebida, trocando-a por aquele sistema de educação que causou a ruina das denominações protestantes em 1844. O Pr. Tiago White, em seu livro sobre a vida de Guilherme Miller, expressa nas seguintes palavras sua avaliação do sistema educacional que representou a ruína dos protestantes: 90 | Estudos em Educação Cristã “Qual teria sido agora o efeito do que é chamado de curso regular de educação? ... Teria ele realizado seu trabalho adequado, o de discipular, ampliar e abastecer a mente, deixando intactas, durante o processo educativo, suas energias naturais, sua autodependência e seu senso de dependência e responsabilidade para com Deus? Ou será que o teria colocado [Guilherme Miller] nas fileiras apinhadas daqueles que se contentam em partilhar a honra de repetir as tagarelices, sejam verdadeiras ou falsas, que passam por verdades na escola ou seita que os tornou o que são?” (Sketches of the Christian Life and Public Labors of William Miller, p. 15, 16). Os Adventistas do sétimo dia chamados para ser reformadores: — Esses bravos reformadores cristãos estavam agora diante de uma situação semelhante à enfrentada pelos refugiados cristãos que fugiram da Europa para o litoral da América buscando a implantação de uma nova ordem de coisas. Mas “os reformadores ingleses, conquanto renunciassem às doutrinas do romanismo, retiveram muitas de suas formas” (O Grande Conflito, p. 289). Os fundadores da Igreja Adventista do Sétimo Dia tinham deixado igrejas apóstatas e, como os reformadores ingleses, ficaram impressionados com a condição dessas igrejas, mas, embora denunciassem as doutrinas papais encontradas nas igrejas protestantes apóstatas, não conseguiram perceber todos os erros dessas igrejas. Os reformadores de 1844 também sofreram perseguição, como aconteceu com os reformadores ingleses antes de virem para este país. Deles é dito: “Muitos eram perseguidos por seus irmãos descrentes” (Ibid., p. 372). Durante os primeiros poucos anos da história da Igreja Adventista do Sétimo Dia, encontramos os fundadores pesquisando a Bíblia em busca das grandes doutrinas fundamentais da terceira mensagem angé- lica, que revelavam falsas doutrinas e certas falácias que haviam se introduzido nas igrejas populares; eles estavam escrevendo e publicando essas sãs doutrinas para o mundo e desenvolvendo uma organização cristã. Eles fizeram bem o seu trabalho. Mas o que estava sendo feito para a educação das crianças e dos jovens durante esse período de formação? Muitos deles estavam frequentando as mesmas escolas que antes haviam treinado homens para repudiar a luz da primeira mensagem angélica. Muitos dos reformadores ficaram perturbados com a situação. Começaram a entender que, se mantivessem as crianças nessas escolas, com o tempo, elas seriam levadas a considerar a 3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia | 91 verdade como seus professores que não demonstravam nenhuma simpatia para com a mensagem. Luz veio de Deus sobre o problema da educação. Os pais adventistas do sétimo dia foram instruídos a tirar os filhos das escolas públicas, e estabelecer escolas que ofereciam formação cristã. “Ao me ser mostrado pelo anjo de Deus que se deveria estabelecer uma instituição para a educação de nossos jovens, vi que esse seria um dos maiores meios ordenados por Deus para a salvação de almas” (Christian Education, p. 25). Estabelecer escolas parecia uma tarefa grande demais para a maioria de nosso povo naquela época. O sentimento era semelhante ao dos filhos de Israel diante do desafio de conquistar Canaã. Muitos filhos de lares adventistas foram retirados das escolas do mundo, mas a igreja não teve fé para estabelecer escolas e apegar-se à promessa do Senhor de prover professores cristãos. Então, por um tempo, as crianças ficaram sem as vantagens de uma educação formal. Os pais perceberam que algo devia ser feito, mas como não tinham fé para obedecer à Palavra de Deus nessa questão, gradualmente colocaram os jovens de volta nas escolas mundanas. Assim começaram as vagueações dos adventistas do sétimo dia no deserto da educação mundana. Eles deixaram de compreender “a verdadeira ciência da educação”. A obra foi retardada, e, “por causa disso, estamos muito aquém de onde deveríamos estar no desenvolvimento da mensagem do terceiro anjo”. Essa experiência ocorreu por volta de 1860; em 1901, quarenta anos depois, veio esta mensagem: “É o começo da reforma educacional”. A seguinte instrução foi dada durante as peregrinações no deserto educacional: “Deveriam ter sido tomadas providências nas gerações passadas para uma obra educacional em maior escala. Ligados às escolas, deveria ter havido estabelecimentos de manufatura e de agricultura, como também professores de trabalhos domésticos. E uma parte do tempo diário deveria ter sido dedicada ao trabalho, de modo que as faculdades físicas e mentais pudessem exercitar-se igualmente. Se escolas tivessem sido estabelecidas de acordo com o plano que mencionamos, não haveria agora tantas mentes desequilibradas... Se o sistema de educação de gerações passadas tivesse sido conduzido de acordo com um plano totalmente diferente, a juventude desta geração não estaria agora tão depravada e inútil” (Christian Education, p. 18, 11). 92 | Estudos em Educação Cristã Com base nos registros da Review and Herald, concluímos que houve considerável agitação sobre questões educacionais até a fundação do Colé- gio de Battle Creek, em 1874. Nessa época, muitos dos líderes começaram a entender mais amplamente os resultados do terrível erro cometido em não seguir as instruções dadas na década de cinquenta em relação à educação. A necessidade de escolas era evidente. O irmão A. Smith, escrevendo para a Review and Herald (vol. 40, no. 2), disse: “Qualquer um que tenha a mínima familiaridade com nossas escolas comuns, está consciente de que a influência resultante de se associar com elas é terrível sobre o comportamento dos nossos filhos. ... Eu não sei por que moças não poderiam receber uma qualificação por meio de um programa de estudos em Battle Creek a fim de servirem como professoras em escolas selecionadas em nossas grandes igrejas”. Temos aqui uma sugestão para a criação de escolas paroquiais. Uma escola paroquial foi fundada em Battle Creek por volta dessa época. O professor que foi o principal articulador nesse empreendimento era um reformador educacional; e se a reforma que ele defendia houvesse sido acolhida favoravelmente e praticada de forma inteligente, os adventistas do sétimo dia teriam saído do deserto educacional muito antes do que o fizeram. As ideias sobre educação que esse homem possuía eram semelhantes às reformas ensinadas antes de 1844. Deus desejava que, quando a obra educacional de fato começasse entre os adventistas do sétimo dia, ela deveria ser estabelecida sobre um fundamento pelo menos igual ao que marcou o movimento de reforma educacional anterior a 1844. Deus enviara para os adventistas do sétimo dia um educador que havia aceitado a mensagem do terceiro anjo, e que estava pronto para começar a obra educacional entre nós a partir do estágio em que as reformas educacionais haviam parado antes de 1844. Essa reforma, se acatada, teria colocado a obra educacional dos adventistas do sétimo dia numa posição diante do mundo correspondente à que a obra hospitalar dos adventistas do sétimo dia possuía. O primeiro sanatório adventista do sétimo dia rapidamente se alinhou com todas as ideias avançadas ensinadas e praticadas antes de 1844. E se há uma coisa, acima de outras, que tem tornado os adventistas do sétimo dia distintos perante o mundo, trata-se de seus princípios da reforma de saúde e a obra hospitalar. Eles tiveram igual oportunidade no mundo educacional. 3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia | 93 As seguintes palavras mostram a gravidade do erro que foi cometido quando esse reformador educacional, que tinha chegado em nosso meio, foi criticado e rejeitadas as suas reformas: “Em termos de educação, o século atual se caracteriza pela superficialidade e ostentação. O irmão _______ possui um interesse natural por planejamento e organização, que se lhe tornaram um hábito graças a toda uma vida de preparo e disciplina. Ele foi aprovado por Deus agindo assim. Seus trabalhos são de real valor, porque ele não permite que os estudantes sejam superficiais. No entanto, logo que iniciou seu trabalho no sentido de estabelecer uma escola, ele enfrentou muitos obstáculos. ... Alguns pais negligenciaram o sustento da escola, e seus filhos não respeitaram o professor porque ele usava roupa humilde. ... O Senhor aprovou de modo geral o procedimento do irmão _______, ao lançar ele os fundamentos para a escola que está agora em atividade” (Testemunhos para a Igreja, Vol. 5, p. 90, 91). Essa escola paroquial veio a tornar-se o Colégio de Battle Creek. O Colégio de Battle Creek deveria ter sido estabelecido no campo: — Os promotores do Colégio de Battle Creek foram instruídos a estabelecer a escola numa grande extensão de terra, onde várias indústrias poderiam ser criadas e a escola se tornasse uma instituição de formação manual, sendo conduzida de acordo com as ideias educacionais reformadoras. A declaração a seguir, que aparece no Boletim da Conferência Geral de 1901, página 217, foi feita pelo Pr. Haskell, e dizia respeito à fundação do Colégio de Battle Creek: “Lembro-me do tempo em que o terreno atual foi selecionado para a localização do Colégio aqui em Battle Creek. ... A irmã White, falando à comissão responsável pela escolha do local, disse: ‘Erija-se a escola num terreno distante da cidade densamente habitada, onde os alunos possam trabalhar a terra.’” No mesmo Boletim da Conferência Geral, às páginas 115 e 116, encontra-se a seguinte declaração da Sra. White sobre a localização do Colégio de Battle Creek: “Alguns podem ficar incomodados por causa da transferência da escola de Battle Creek, mas não precisam ficar assim. Essa mudança está de acordo com o plano de Deus para a escola antes de a instituição ser criada, mas os homens não conseguiam enxergar como isso poderia ser feito. Havia muitos que diziam que a escola deveria estar em Battle Creek. Agora dizemos que ela deve ir para outro 94 | Estudos em Educação Cristã lugar. A melhor coisa a fazer é desfazer-se dos prédios da escola aqui, assim que possível. Que se comece imediatamente a procurar um lugar onde a escola possa ser construída dentro dos moldes corretos. ... Obtenha-se uma extensa faixa de terra e ali se comece o trabalho que solicitei que fosse iniciado antes de a escola ser estabelecida aqui. ... Nossas escolas deveriam estar localizadas longe das cidades, numa extensa faixa de terra, para que os estudantes tenham a oportunidade de fazer trabalho manual”. Do acima exposto, vemos que, quando o Colégio de Battle Creek foi estabelecido, não havia suficiente fé e coragem para erguer uma instituição de ensino entre os adventistas em área rural, numa fazenda, onde os reformadores educacionais anteriores a 1844 haviam localizado suas escolas. A causa dessa incapacidade de valorizar o sistema educacional para o qual Deus os estava chamando deveu-se ao fato de que os líderes da denominação haviam recebido sua educação em escolas que haviam repudiado as ideias de reforma defendidas antes de 1844. A importância da formação manual e reformas afins não havia se firmado na mente deles como ocorreu com Oberlin, que, durante sua experiência de reforma, inculcou essas ideias na mente de seus alunos. Então, também os adventistas do sétimo dia, muitos anos antes da criação de sua primeira instituição educacional, não tiveram fé para obedecer a Deus na criação de escolas simples, segundo o plano correto, para educar as crianças que deveriam ter sido retiradas das escolas públicas. As crianças adventistas, cujos pais, por falta de fé, deixaram de tirá-las das escolas públicas, estavam agora entre os líderes da denominação. Sua fé e coragem quanto à reforma educacional eram débeis, e seus olhos estavam tão cegos para a verdadeira ciência da educação cristã quanto os de seus pais, que não lhes propiciaram escolas cristãs. A ideia é assim expressa: “Se pastores e professores tivessem plena consciência de sua responsabilidade, veríamos um diferente estado de coisas no mundo hoje, mas eles são demasiado estreitos em seus pontos de vista e propó- sitos. Não compreendem a importância do seu trabalho ou os seus resultados” (Christian Education, p. 24). E assim, por causa da incredulidade, o primeiro colégio adventista foi estabelecido onde Deus disse que não deveria estar, e, em lugar dos princípios e métodos reformatórios da educação cristã, foram introduzidos os princípios, métodos, condutas, estudos e ideais dos colégios das denominações protestantes ao seu redor. Portanto, sob tais circunstâncias, era 3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia | 95 nessa instituição em que deveriam ser treinados os futuros missionários da denominação — os missionários que, ao prepararem os jovens para o alto clamor, deveriam evitar os erros que enlaçaram os jovens das denominações protestantes antes de 1844, quando era iminente o clamor da meia-noite. Os resultados do fracasso: — Nossa primeira instituição de ensino logo começou a produzir uma abundante safra de frutos educacionais mundanos, e o Senhor claramente avalia a qualidade desses frutos e do sistema que os produziu, e fornece alguns sábios conselhos sobre qual o melhor rumo a seguir. “Se uma influência mundana vier a dominar nossa escola, seja ela então vendida aos mundanos, e assumam eles o total controle; e os que investiram seus recursos nessa instituição estabelecerão outra escola para ser dirigida, não de acordo com o plano das escolas populares, nem segundo a vontade de diretores e mestres, mas de acordo com o plano especificado por Deus. ... Nosso colégio está hoje numa posição que Deus não aprova” (Testemunhos para a Igreja, Vol. 5, p. 25, 27). Uma oportunidade para reforma: — Não é nosso propósito entrar na história do Colégio de Battle Creek. Ele realizou muito bem, mas sua localização e o sistema educacional primeiramente adotado tornaram difícil a realização de uma reforma educacional cristã. No entanto, em diferentes ocasiões, foram feitos grandes esforços para promover reformas. A declaração a seguir conta de forma concisa toda a história do Colégio de Battle Creek: “Nossas instituições de ensino podem pender para a conformidade mundana. Podem avançar passo a passo em direção ao mundo; são, porém, prisioneiras de esperança, e Deus as corrigirá e iluminará, trazendo-as de volta à sua honrada posição de separação do mundo” (Testemunhos para a Igreja, Vol. 5, p. 25, 27). O Colégio de Battle Creek, em Battle Creek, como o Israel do passado, oscilou, ora para frente, em direção ao plano de Deus, ora para trás, em direção ao sistema educacional mundano. Mas ele era um “prisioneiro de esperança” e, como já foi dito por Ellen White no Boletim da Conferência Geral de 1901, Deus o trouxe de volta à sua verdadeira posição. Em outras palavras, Ele o colocou na zona rural onde disse que a escola deveria ser fundada e onde ela poderia fazer avançar os princípios da educação cristã. Vimos que Deus enviou claras e positivas instruções para guiar os líderes adventistas do sétimo dia quanto à localização e estabelecimento 96 | Estudos em Educação Cristã de seu primeiro colégio. Somos informados de que essa instrução não foi plenamente cumprida. A fé deles não foi forte o suficiente para tentar pôr em prática esse e outros importantíssimos e fundamentais princípios da educação cristã, tais como: o plano de tornar a Bíblia a base de todas as disciplinas ministradas; a rejeição da literatura prejudicial; a eliminação de cursos tradicionais e suas titulações; a incorporação da fisiologia como base de todo esforço educacional; o treinamento manual; o trabalho agrí- cola; a reforma no estilo dos edifícios, na alimentação, etc. Os Adventistas do Sétimo Dia aderem à educação papal: — O fracasso deles em todas essas direções deveu-se à mesma experiência que causou o insucesso dos reformadores em estabelecer um fundamento para a obra educacional, a qual teria qualificado um exército de cristãos missionários para dar a primeira mensagem angélica. “Os reformadores ingleses, conquanto renunciassem às doutrinas do romanismo, mantiveram muitas de suas formas” (O Grande Conflito, p. 289). É do nosso conhecimento que, embora os reformadores ingleses tenham rompido com as doutrinas papais, em grande parte por ignorância dos resultados, eles não hesitaram em adotar em peso o sistema papal de educação. Eles pensaram que a introdução de pequenas fatias de ensino bíblico no sanduíche da educação adotada e a aromatização de seus ensinos com alguma instrução religiosa era tudo que precisavam para fornecer uma educação cristã. Estavam enganados. A longa história de fracassos espirituais neste país foi o fruto colhido. Como resultado dessa ignorância, as igrejas protestantes foram conduzidas ladeira abaixo a uma condição que muito se assemelhava ao próprio papado, e foram chamadas de Babilônia. Nossos próprios líderes adventistas do sétimo dia deixaram essas denominações protestantes como os reformadores ingleses haviam deixado as igrejas papais europeias. Eles romperam com as doutrinas papais mantidas pelas igrejas protestantes, assim como fizeram os reformadores ingleses. Mas, a exemplo deles, levaram consigo, das denominações protestantes, um sistema educacional que era papal em espírito. Os reformadores ingleses lutaram durante anos para deter a corrente de apostasia. Eles não compreenderam a filosofia do declínio de sua experiência religiosa. No entanto, os resultados vieram finalmente, terríveis, mas certos. Ficaram moralmente arruinados e foram postos de lado, porque haviam falhado em “entrar na linha da verdadeira educação”. Uma bela perspectiva foi totalmente destruída pelas artima- 3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia | 97 nhas do arqui-inimigo. Isso foi possível através da ignorância dos princí- pios da educação cristã por parte de muitos grandes e bons homens. Nestes últimos dias, Satanás, se possível, enganará os próprios escolhidos. Há alguma razão por que ele não deveria usar o mesmo método que se tem mostrado tão eficaz em suas mãos através de todas as épocas, quer seja na subversão da igreja judaica e da igreja apostólica, quer por meio da neutralização, através dos jesuítas, da grande reforma do século XVI, ou mesmo ao frustrar os esforços dos reformadores ingleses que tentaram estabelecer na costa da América a igreja para sua luta final? Vamos traçar novamente o sistema atual de educação mundana até sua fonte. O plano educacional do nosso primeiro colégio foi tomado emprestado, em grande parte, das escolas religiosas das denominações protestantes. Essas denominações receberam sua luz educacional das instituições de ensino mais antigas do país, como Harvard e Yale. Harvard e Yale, como vimos, a tomaram emprestada de Oxford e Cambridge. Oxford e Cambridge são filhas da Universidade de Paris. A Universidade de Paris, presidida unicamente pelos romanistas, era totalmente papal, e é a mãe das universidades europeias. Ela tomou emprestado seu sistema de ensino de Roma pagã. Roma pagã “assimilou em seu sistema os elementos das culturas grega e oriental”. As escolas gregas extraíram sua sabedoria e inspiração do Egito. “Os antigos olhavam para o Egito como uma escola de sabedoria. A Grécia enviava para lá seus ilustres filósofos e legisladores — Pitá- goras e Platão, Licurgo e Sólon — para completar seus estudos. ... Por isso, mesmo os gregos da antiguidade estavam acostumados a tomar emprestadas sua política e aprendizagem dos egípcios” (A History of Education, p. 32-34). O Egito, portanto, deve ser reconhecido como a fonte de toda a sabedoria secular que vale a pena estudar. Este sistema secular de educação do Egito é certamente duradouro, ou não teria chegado até nós através dessas longas eras. Em essência, foi esse espírito filosófico egípcio que tornou tão atraente para os homens deste mundo a assim chamada literatura clássica. A sabedoria do Egito tem se mantido viva no mundo por alunos que, enquanto na escola, estudam sua filosofia e extraem sua inspiração a partir dos clássicos. É estranho dizer, mas o mais poderoso fator que tem contribuído para manter viva essa educação egípcia tem sido a própria igreja cristã. Por várias razões, em diferentes momentos, ela não só per- 98 | Estudos em Educação Cristã mitiu, mas encorajou os jovens a estudar esses escritos. Reiteradas vezes a igreja vem sendo enganada por essa sabedoria egípcia, assim como Eva foi enganada pelo conhecimento do bem e do mal. Os cristãos têm revestido essa filosofia sutil com trajes religiosos (você reconhece aqui o papado?), e a espalharam por toda parte. Essa filosofia egípcia arruinou todas as igrejas até 1844, e os adventistas do sétimo dia foram informados de que “agora, como nunca antes, precisamos compreender a verdadeira ciência da educação. Se deixarmos de compreender isso, jamais teremos lugar no reino de Deus”. É contra essa filosofia egípcia que Deus nos adverte nas palavras citadas acima. É exatamente essa filosofia, tão sutil, que Deus tem em mente quando adverte a igreja que “se possível, ‘ele’[Satanás] enganaria os próprios escolhidos”. Nós, jovens adventistas do sétimo dia, deveríamos estudar a pessoa de Moisés, que, “instruído em toda a sabedoria dos egípcios”, graduado pela maior instituição educacional do mundo de então, e reconhecido como um gigante intelectual, abandonou todas as coisas que a educação egípcia lhe tornou possível desfrutar, e entrou na escola de treinamento de Deus no deserto. “Não foi o ensino das escolas do Egito que habilitou Moisés a triunfar sobre todos os seus inimigos, mas uma persistente e infalível fé, fé que não experimentou o fracasso sob as mais probantes circunstâncias” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 345). Depois de passar quarenta anos esquecendo sua educação secular e adquirindo a sabedoria de Deus, Moisés qualificou-se para estar à frente da maior escola de formação prática jamais conhecida. “Que escola de formação prática para a vida era aquela no deserto!” (Educação, p. 37). Foram necessários mais quarenta anos para que os alunos dessa escola rompessem o jugo do sistema educacional egípcio e entendessem “a verdadeira ciência da educação” para que pudessem ter um lugar na terra de Canaã. Cristo chama homens para que abandonem o sistema egípcio de educação: — Mas a coisa mais importante para nós, jovens adventistas do sétimo dia, é estudar o grande Mestre, de quem se diz: “Do Egito chamei Meu Filho”. Tão completamente foi o Filho de Deus chamado para fora do Egito que, quando criança, nunca lhe foi permitido frequentar até mesmo as escolas religiosas judaicas, visto estarem muito saturadas da educação egípcia secularizada. As crianças adventistas do sétimo dia têm igual oportunidade. Estudem a vida do Mestre na humilde escola do lar 3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia | 99 em Nazaré, na oficina e no campo, nas colinas e nos vales. Ele cresceu em sabedoria, até que, com a idade de doze anos, deslumbrou os líderes da igreja com o fruto de Sua educação cristã. “Observai os aspectos da obra de Cristo... Embora Seus discípulos fossem pescadores, Ele não aconselhou que frequentassem em primeiro lugar a escola dos rabis antes de iniciarem o trabalho” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 359). Por quê? Porque as escolas dos rabinos estavam cheias da filosofia grega e egípcia que cegam os olhos para verdades espirituais. Foi a um professor de uma dessas escolas que Cristo disse: “Importa-vos nascer de novo”. Deus nos pede que estabeleçamos escolas para nossos filhos a fim de que possam obter Sua sabedoria e entendimento mesmo em seus mais tenros anos. Os estudantes adventistas do sétimo dia deveriam afastar-se para sempre desse sistema de educação mundana — a sabedoria do Egito — que têm destruído as perspectivas de cada igreja cristã até o surgimento dos adventistas do sétimo dia. E nós, individualmente, estamos em perigo de cair nessa mesma sabedoria egípcia. “Encho-me de tristeza quando penso em nossa condição como povo. O Senhor não nos cerrou o Céu, mas nosso próprio procedimento de constante apostasia tem nos separado de Deus. ... E, no entanto, a opinião geral é que a igreja está florescendo, e que paz e prosperidade espiritual se encontram em todas as suas fronteiras. A igreja tem deixado de seguir a Cristo, seu Líder, e está constantemente retrocedendo rumo ao Egito” (Testemunhos para a Igreja, p. 217). Antes de 1844, o Espírito de Deus enviou mensagens para as denominações protestantes, dizendo-lhes de sua condição em linguagem muito semelhante à que acabamos de citar. Elas deixaram de compreendê-la, porque, como vimos, o sistema papal de educação, que inadvertidamente introduziram em suas escolas paroquiais, havia extinguido sua visão espiritual e ensurdecido seus ouvidos à Palavra de Deus. Elas não entenderam “a verdadeira ciência da educação”; não entraram “na linha da verdadeira educação”, e foram rejeitadas. Estudiosos da história da educação reconhecem a força desta afirmação: “A Igreja está constantemente retrocedendo rumo ao Egito”, pois esse sistema papal de educação tem suas raízes no sistema filosófico e de aprendizagem egípcio, o qual Deus pediu que Seu antigo povo abandonasse para sempre. Percebendo os resultados alcançados por outras organizações cristãs, não é difícil ficarmos desanimados 100 | Estudos em Educação Cristã quando vemos nossa primeira escola moldada em grande medida segundo as escolas das igrejas populares, especialmente em vista do fato de que “os costumes e práticas da escola de Battle Creek passam a todas as igrejas, e as pulsações provindas do coração dela repercutem por todo o corpo de crentes” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 223). Mas temos a boa promessa do nosso Deus: “Nossas instituições de ensino podem pender para a conformidade com o mundo. Passo a passo podem elas avançar para o mundo; mas, são prisioneiras da esperança, e Deus as corrigirá e iluminará, trazendo-as de volta à sua honrada posição de separação do mundo. Estou observando com intenso interesse, esperando ver nossas escolas completamente imbuídas do espírito de religião pura e sem mácula. Quando os alunos estiverem assim imbuídos, verão que há uma grande obra a ser feita segundo o padrão seguido por Cristo, e o tempo que eles têm dedicado às diversões será empregado para a realização de diligente trabalho missionário” (Ibid., p. 290 [9 de janeiro de 1894]). Os Adventistas do Sétimo Dia foram chamados para ser reformadores: — Cada fiel adventista do sétimo dia, percebendo a linhagem de nossas instituições de ensino e a esperança que lhes é estendida, vai se esforçar para ajudar a colocar na posição correta cada escola que se achar em desarmonia com o plano divino. Todo método utilizado em nossas escolas deveria ser submetido ao teste divino. “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva”. Tudo o que não se provar genuíno deve ser descartado. Em lugar de tratar a situação superficialmente ou condescender com críticas reacionárias, como muitos trataram reformas do passado, especialmente as reformas de 1834-1844, estudemos com oração a seguinte instrução: “Precisamos agora recomeçar novamente. Reformas devem ser introduzidas com alma, coração e vontade. Os erros podem estar encanecidos pela idade; esta, porém, não torna o erro verdade, nem a verdade erro. Os antigos costumes e hábitos, como um todo, têm sido seguidos por demasiado tempo. O Senhor deseja agora que toda ideia falsa seja afastada de professores e alunos... Aquilo que o Senhor ensinou quanto à instrução a ser ministrada nas nossas escolas deve ser rigorosamente observado, pois, se não houver em alguns aspectos uma educação inteiramente diversa da que tem sido seguida em algumas de nossas escolas, não precisávamos ter gasto 3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia | 101 recursos para a aquisição de terras e a construção de edifícios escolares” (Testemunhos para a Igreja, Vol. 6, p. 142). O Colégio de Battle Creek: modelo para outras escolas: — Como o Colégio de Battle Creek foi a primeira escola em nosso meio, seu exemplo foi seguido por praticamente todas as demais escolas estabelecidas pela denominação. Elas modelaram seus programas de estudo segundo o padrão adotado ali. Elas imitaram os seus métodos de ensino e, em grande medida, seguiram seu plano de localização e erigiram seus edifícios conforme o padrão seguido pela escola de Battle Creek. “Os costumes e práticas da escola de Battle Creek passam a todas as igrejas, e as pulsações desta escola repercutem por todo o corpo de crentes” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 224). Esses fatos devem nos ajudar a compreender melhor a declaração feita quando se decidiu transferir o Colégio de Battle Creek da cidade de Battle Creek para uma fazenda. “Estamos gratos pelo interesse mostrado em estabelecer escolas sobre um fundamento correto, conforme deveria ter sido feito anos atrás” (General Conference Bulletin, 1901, p. 455). A segunda escola estabelecida entre os adventistas localizou-se em Healdsburg, Califórnia. Foi feita uma tentativa pelos organizadores dessa escola de seguir a instrução do Senhor na questão da localização. Embora Healdsburg não estivesse localizada na cidade, como havia sido o colé- gio de Battle Creek, todavia, seguindo o exemplo de Ló, os fundadores imploraram para ir a uma cidadezinha. O Colégio de Healdsburg situou-se nos arredores de uma pequena cidade. A despeito de os líderes se esforçarem para estabelecer o perfil de uma escola com trabalhos manuais, sua infeliz localização num pequeno pedaço de terra, a manutenção de cursos e respectivas titulações nos moldes tradicionais, e a forte influência exercida pelo Colégio de Battle Creek, logo fizeram com que Healdsburg se movesse em direção à conformidade com o mundo. Mas palavras de esperança também foram-lhe ditas: “Passo a passo podem elas avançar para o mundo; mas, são prisioneiras da esperança, e Deus as corrigirá e iluminará, trazendo-as de volta à sua honrada posição de separação do mundo” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 290). Mais de um quarto de século após seu estabelecimento, o Colégio de Healdsburg mudou-se para uma extensa área de terra próxima à Santa 102 | Estudos em Educação Cristã Helena, Califórnia, e o colégio em sua nova localização ficou em condições de iniciar sua reforma educacional, assim como foi dito que o Colégio de Battle Creek atingiu sua posição adequada ao se estabelecer no campo. No volume 6 dos Testemunhos, página 138, o seguinte é dito a nosso povo: “Devem ser estabelecidas escolas, não tão elaboradas como as de Battle Creek e College View, porém mais simples, com prédios mais humildes, e com professores que adotem os mesmos planos que eram seguidos nas escolas dos profetas”. Mais uma vez, no mesmo volume, está escrito: “Precisamos agora recomeçar novamente. Cumpre efetuar reformas com alma, coração e vontade” (Ibid., p. 142). Vimos a necessidade de o Colégio de Battle Creek e o de Healdsburg começarem seu trabalho novamente. Os professores nessas escolas têm agora a oportunidade de “adotar os mesmos planos que eram seguidos nas escolas dos profetas”, e empreender as reformas educacionais com “alma, coração e vontade”. Cursos tradicionais: — Uma das principais reformas, requeridas para romper com o sistema papal de educação, tem que ver com cursos e a conferição de títulos de graduações, visto que a queda moral das igrejas protestantes pode ser atribuída, quase que diretamente, aos cursos tradicionais oferecidos em suas escolas, com seus respectivos títulos acadê- micos. Via de regra, seus ministros eram obrigados a concluir um curso e receber um título de graduação, e isso muitas vezes afetou sua independência em seguir a Palavra de Deus; tal sistema reprimia sua individualidade e originalidade. Declara-se o seguinte acerca desses escolares: “[eles são] uma representação estereotipada daquilo que o curso os torna; se eles (os graduados) conseguem erguer um companheiro do lamaçal, nunca o deixarão mais perto do Céu do que a escola onde foram educados... Eles estão felizes em partilhar a honra de repetir as tagarelices, verdadeiras ou falsas, que passam por verdade, na escola ou seita que fizeram deles o que são” (Sketches of the Christian Life and Public Labors of William Miller, p. 16). Os cristãos primitivos propagaram o evangelho rapidamente e de forma eficaz pelo mundo. Em sua escola, ensinavam somente as matérias que preparariam o aluno para fazer a obra do Senhor. Seus educadores eram vistos pelo mundo como “extremistas esquisitos, estranhos e austeros”. Tudo era feito por esses educadores cristãos com o propósito de pre- 3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia | 103 parar rapidamente o aluno para desempenhar o papel de bom soldado na batalha. Os estudantes não eram retidos na escola para concluir um curso e receber um título acadêmico, um costume em voga nas escolas seculares. Mais tarde, professores cristãos meio-convertidos do paganismo introduziram a ideia de cursos com vistas à titulação acadêmica cujo resultado foi o desenvolvimento de um monopólio educacional controlado pelos líderes da igreja, e ninguém tinha permissão para ensinar ou pregar até que tivesse terminado um curso e recebido um diploma. Uma das objeções mais graves levantadas contra esse plano é que ele fecha a mente do estudante à verdade. Praticamente todas as reformas religiosas são efetuadas através de leigos humildes, porque os líderes da igreja, via de regra, ao adquirirem sua educação, tornam-se conservadores. O conservadorismo é o resultado de passar por um curso rígido e mecânico de estudos voltado para a obtenção de um título acadêmico. O aluno é mantido numa rotina, cansativamente rodando um moinho, sendo descrito como alguém que anda indefinidamente, nunca chegando a lugar algum. Consequentemente, quando a verdade é apresentada a esses acadêmicos, especialmente quando apresentada por um leigo, ela não é vista com bons olhos, pois eles chegaram ao ponto de se considerar como o canal autorizado através do qual a luz deve chegar ao povo. A verdade dessa afirmação é corroborada por fatos históricos. Motley, citando a experiência de reformadores na Holanda, escreve sobre a restrição imposta aos leigos pelo sistema papal de educação: “Proibimos todas as pessoas leigas de conversar ou debater sobre as Sagradas Escrituras, de forma aberta ou secreta, especialmente sobre qualquer assunto difícil ou duvidoso, ou ler, ensinar ou explicar as Escrituras, a menos que tenham estudado teologia devidamente e sido aprovados por alguma universidade de renome” ( John Lothrop Motley, The Rise of the Dutch Republic, p. 134 [Volume Único, ed. de 1863]). Ele acrescenta, contudo, que “para o inexprimível desgosto dos conservadores na igreja e no estado, aqui havia homens com pouca instrução, totalmente desprovidos de conhecimento do hebraico, de condição humilde — chapeleiros, cavalariços, curtidores, tintureiros e ofícios semelhantes — que começaram a pregar. Tal fato nos faz lembrar que os primeiros discípulos selecionados pelo Fundador do cristianismo 104 | Estudos em Educação Cristã não eram todos doutores em teologia, com diplomas de universidades renomadas” (Ibid., p. 264). O Senhor sabe que um curso rígido, com vistas à obtenção de um título, frequentemente introduz na igreja “muitos homens segundo a carne... muitos poderosos... muitos nobres” em vez de produzir líderes que estão conscientes de que “Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar as sábias... a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus”. A maior parte dos acadêmicos que viveram por volta de 1844 rejeitou a mensagem do primeiro anjo porque não lhes chegou de acordo com a maneira tradicional. “O fato de ser a mensagem em grande parte pregada por leigos, era insistentemente apresentado como argumento contra a mesma. ... Multidões, confiando implicitamente em seus pastores, recusaram-se a ouvir a advertência” (O Grande Conflito, p. 380). Os Adventistas do Sétimo Dia serão provados nesse mesmo ponto: — “Ao chegar o tempo para que ela [a mensagem do terceiro anjo] seja dada com o máximo poder, o Senhor operará por meio de humildes instrumentos, dirigindo a mente dos que se consagram ao Seu serviço. Os obreiros serão qualificados mais pela unção de Seu Espírito do que pelo preparo das instituições de ensino” (O Grande Conflito, p. 606). No tempo do alto clamor, Satanás trabalhará com todo o seu poder de engano, a fim de introduzir como líderes na Igreja Adventista do Sétimo Dia, homens que considerarão a obra dos humildes instrumentos — os que são guiados pelo Espírito de Deus mas que não se graduaram em instituições acadêmicas — com o mesmo desfavor com que os líderes das igrejas protestantes consideraram tais irregularidades antes de 1844. Deus quer milhares de homens treinados em nossas escolas, mas Ele não deseja que eles recebam um tipo de treinamento que fará com que a atitude deles para com a verdade seja a mesma que a dos acadêmicos de outras denominações antes de 1844. A questão de vital importância para nós, adventistas do sétimo dia, é: Podemos obter uma educação liberal e prática para o trabalho de Deus, sem sermos estragados pelo treinamento? Precisa haver alguma saída. Quando o Colégio de Battle Creek estava incentivando os estudantes a fazer cursos que proporcionavam graduação e moldados segundo as escolas seculares, foi-lhe dada a seguinte instrução: “Os próprios alunos não cogitariam em semelhante demora para ingressarem na obra, se esta não lhes fosse recomendada com insistência por aqueles cuja missão é a 3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia | 105 de ser pastores e tutores”. Esse sistema foi descrito como “este prolongado processo de aumentar cada vez mais o tempo e os ramos de estudo”. O Senhor expressou Seu desagrado com estas palavras: “O preparo dos estudantes tem sido conduzido de acordo com o mesmo princípio utilizado na construção de edifícios... Deus está clamando — e isso já há anos — por uma reforma nesses aspectos. ... Ao passo que tanto se emprega para colocar alguns em um exaustivo programa de estudos, muitos há que se acham sedentos do conhecimento que poderiam alcançar em alguns meses; um ou dois anos seriam considerados grande bênção. Deem aos alunos um começo, mas não considerem ser o dever de vocês mantê-los [na escola] por vários anos. É dever deles saírem para o campo para trabalhar” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 337, 338). “O aluno não deveria permitir-se ficar preso a nenhum curso particular de estudo que envolva longos períodos de tempo, mas ser guiado nesses assuntos pelo Espírito de Deus... Gostaria de advertir os estudantes a não dar um passo neste sentido, nem mesmo por conselho de seus instrutores, ou de homens em posição de autoridade, a não ser que hajam primeiro buscado a Deus em particular, com o coração aberto às influências do Espírito Santo, e recebido dEle conselho com relação ao desejado programa de estudos. Deixem de lado todo desejo egoísta de alcançar distinção... Por parte de muitos alunos, o motivo e ideal que os levaram a entrar na escola estão gradualmente sendo perdidos de vista, e uma ambição não santificada de adquirir educação elevada os tem levado a sacrificar a verdade... Muitos há que estão amontoando demasiados estudos num restrito período de tempo. ... Aconselharia, porém, limites rídigos em seguir esses métodos de educação que põem em risco a alma e anulam o desígnio para o qual tempo e dinheiro estão sendo gastos. A educação é uma grande obra vitalícia... Depois de haver sido dedicado ao estudo um período de tempo, que ninguém aconselhe os alunos a entrar novamente noutro curso de estudos, mas, ao contrário, que sejam aconselhados a entrar na obra para a qual estiveram se preparando. Sejam eles aconselhados a pôr em prática as teorias que aprenderam... Os que dirigem a obra de educação estão colocando excessiva quantidade de estudos diante dos que têm vindo a Battle Creek a fim de se prepararem para a obra do Mestre. Eles têm suposto que lhes é necessário aprofundar-se cada vez mais nos ramos educacionais; e enquanto seguem diversos cursos de estudos, muitos anos preciosos estão escoando” (Ibid., p. 347-353). 106 | Estudos em Educação Cristã “O pensamento que se deve conservar diante dos alunos é que o tempo é breve, e que se devem preparar rapidamente para fazer a obra essencial para este tempo... Compreendam que minhas palavras em nada têm a intenção de depreciar a educação, mas falo a fim de advertir os que se acham em risco de levar o que é lícito a extremos ilícitos” (Ibid., p. 354, 357). Os resultados de seguir este plano de educação são bem ilustrados pelas experiências do Colégio de Battle Creek, quando trabalhavam arduamente para seguir os cursos tradicionais com vistas à obtenção de títulos acadêmicos, que o corpo docente esperava serem vistos com favor pelo mundo. As seguintes palavras mostram o perigo de receber esse tipo de educação: “O Espírito Santo tem vindo muitas vezes a nossas escolas e não tem sido reconhecido, mas tratado como estranho, talvez mesmo como intruso”. “Repetidamente o celeste Mensageiro tem sido enviado à escola”. “O próprio Mestre grandioso esteve entre vocês. De que maneira vocês O honraram? Foi Ele um estranho para alguns dos educadores?” (Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, p. 68, 370, 363). É com vergonha e tristeza que somos obrigados a reconhecer que nós, professores, estávamos tão mortos espiritualmente para o Mestre divino, como estavam os professores para o primeiro anjo antes de 1844. A maior objeção feita contra permitir que o Espírito Santo instruísse os educadores quanto às formas corretas de conduzir a escola naquela época era o fato de que tais medidas desviariam os estudantes de seus cursos regulares e atrapalhariam seus planos de concluir seus cursos e receber os diplomas. Muitas instruções foram enviadas à escola sobre a questão dos cursos longos e rigorosos, mas os professores e alunos do Colégio de Battle Creek, em grande medida, afastaram-se dos ensinos do visitante celeste. Precisamos nos lembrar de que o Colégio de Battle Creek não tinha sido estabelecido no lugar que o Espírito indicara. Não foram seguidos os padrões para seu estabelecimento. A escola nem mesmo tentou introduzir e praticar as reformas educacionais importantes reveladas pelo Senhor antes de 1844, mas se contentou em implementar ali as ideias, a vida e a inspiração das instituições das denominações religiosas que haviam rejeitado a mensagem do primeiro anjo. Já lemos que “os costumes e práticas da escola de Battle Creek são disseminados a todas as igrejas, e as pulsações dessa escola repercutem por 3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia | 107 todo o corpo de crentes”. Devemos, portanto, concluir que, como todas as igrejas e crentes estavam mais ou menos sob a influência do Colégio de Battle Creek nessa época, pelo menos um grande percentual de adventistas do sétimo dia teria tratado o visitante celestial, se Ele tivesse vindo até eles sugerindo reformas, da mesma forma como os professores e alunos do Colégio de Battle Creek O trataram. Talvez, então, possamos entender por que Deus diz: “O plano para as escolas que estabeleceremos nesses anos finais da obra deve ser de ordem inteiramente diversa dos que temos estabelecido... Foi-me mostrado que em nossa obra educacional não devemos seguir os métodos adotados em nossas escolas antigas. Há entre nós muito apego a velhos costumes, e por essa razão nos achamos bem aquém de onde deveríamos estar no progresso da terceira mensagem angélica” (“The Madison School,” p. 29). Os fundadores do Colégio de Battle Creek cometeram seu erro quando não seguiram o plano que lhes foi dado pelo Senhor, mas modelaram a escola segundo as escolas do mundo ao seu redor. Nestes últimos dias, a prova virá para vocês. Vocês não devem moldar as escolas segundo o padrão que norteou o estabelecimento das escolas adventistas mais antigas, mas devem seguir o modelo divino. Se deixarmos de compreender este plano divino, não teremos qualquer participação no alto clamor. A reforma requerida: — Os professores do Colégio de Battle Creek naquele tempo receberam esta mensagem: “Uma sucessão de chuvas procedentes das Águas Vivas têm caído sobre vocês em Battle Creek... Cada chuva era uma sagrada comunicação de influência divina; no entanto, vocês não a reconheceram como tal. Em vez de sorver copiosamente das correntes da salvação, tão liberalmente oferecidas mediante a influência do Espírito Santo, vocês se volveram aos escoadouros comuns, e procuraram satisfazer a sede da alma com as poluídas águas da ciência humana. O resultado tem sido corações endurecidos na escola e na igreja... Espero, porém, que os professores não tenham ainda transposto o limite em que ficarão entregues à dureza de coração e à cegueira mental. Se forem novamente visitados pelo Espírito Santo, espero que não chamem a justiça de pecado, e o pecado de justiça. Há necessidade de conversão do coração entre os professores. Necessita-se de genuína mudança de ideias e métodos de ensino, a fim de colocá-los onde possam manter uma relação pessoal com um Salvador vivo... Deus Se aproximará dos alunos, porque são desencaminhados 108 | Estudos em Educação Cristã pelos educadores nos quais depositam confiança” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 434, 435). A instrução que veio para o Colégio de Battle Creek durante anos mostra que, ao longo de todos aqueles anos, a instituição se encontrava inconstante em muitos dos princípios importantes da educação cristã. A escola nasceu com falsas ideias de educação em sua constituição, e não se deu conta da fonte de sua fraqueza. Ela estava bebendo de correntes poluí- das em maior ou menor grau impregnadas com a sabedoria do mundo, mas desconhecia o perigo. Era portadora de infecções educacionais, e falhou também em não perceber isso. Os testemunhos diretos enviados à instituição devem convencer qualquer crente nos Testemunhos [de Ellen G. White] de que o Colégio de Battle Creek estava em grande necessidade de uma reforma educacional. O Colégio de Battle Creek fez reformas radicais pouco tempo após essas palavras serem enviadas. Eles abandonaram os cursos regulares de graduação, e, ao mesmo tempo, enriqueceram o currículo com muitas disciplinas bastante práticas para os missionários adventistas do sétimo dia, e “a liberdade na escolha de disciplinas foi considerada fundamental” (Education in the United States, p. 197). Cada aluno, com a ajuda dos professores, selecionava os programas de estudo considerados verdadeiramente essenciais à sua vida profissional. A força do corpo docente foi direcionada com intensidade sobre os assuntos que tinham sido negligenciados e para os quais Deus estivera chamando a atenção havia anos. Quando a escola se desfez dos cursos e graduações estereotipados, ela se viu muito mais capaz de seguir as instruções enviadas pelo Senhor, e o resultado foi que, em curto espaço de tempo, o Colégio de Battle Creek foi implantado numa bela fazenda. Foi-lhe dada a oportunidade de se colocar numa posição correta; então lhe veio esta declaração muito notável: “Esse é o início da reforma educacional”. “Nenhuma instituição educacional pode colocar-se em oposição aos erros e corrupções deste século degenerado sem receber ameaças e insultos, mas o tempo porá tal instituição sobre uma plataforma elevada” (General Conference Bulletin, 1901, p. 454). Estamos discutindo esse assunto extensamente porque alguns de vocês, alunos, questionam por que não estabelecemos programas de estudo com vistas à obtenção de um título acadêmico. Vocês devem saber em que chão estão pisando e por que estão ali, e deveriam se perguntar: 3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia | 109 “Estou seguindo o plano instituído pelo Colégio de Battle Creek, que afetou seriamente cada igreja da denominação, ou seguindo outro plano do qual o Senhor disse: “É o início da reforma educacional?” Titulações e a que elas conduzem: — A questão de conferição de títulos acadêmicos já foi indiretamente mencionada, pois trata-se da recompensa dos cursos tradicionais. Se não fosse pela graduação, seria impossível manter a maioria dos alunos num curso prescrito. No entanto, o elemento mais perigoso na conferição de um título acadêmico não parece ser compreendido pelos educadores cristãos que se apegam a esse costume. Um título acadêmico representa um sinal ou selo de autoridade. Na igreja cristã, “a conferição de títulos originou-se com um papa” como sinal de sua autoridade sobre o sistema educacional. Hoje os títulos são conferidos pelo Estado, e este não tem direito algum de colocar o seu selo sobre o trabalho de uma instituição, a menos que possa aprovar o sistema de ensino oferecido pela escola. A conferição de título, portanto, é um sinal de sua aprovação. Qualquer escola adventista do sétimo dia que conceda títulos acadêmicos convida, assim, a inspeção do estado, e deve aceitar o padrão do mundo e entrar em conformidade com o sistema secular de educação. Alegando dirigir escolas cristãs, buscamos ao mesmo tempo ensinar de tal forma que possamos satisfazer os requisitos do sistema secular. Com o tempo, o estado ou vai exigir absoluta conformidade com seu sistema ou se recusar a conceder as graduações. Se estivermos fazendo nosso trabalho de forma a encorajar os alunos a buscar títulos, há um grande perigo de comprometermos a verdadeira ciência da educação a fim de manter o selo ou a chancela do estado. Os adventistas do sétimo dia não estão ignorantes quanto ao fato de que, mesmo nos dias atuais, o papado tem o controle de praticamente toda a educação e, em pouco tempo, isso será abertamente reconhecido. Então, a inspeção de nossas escolas de graduação será efetuada diretamente pelo papado, e o título acadêmico, se concedido, virá novamente diretamente dessa organização. Será um selo ou uma marca da besta. Outros protestantes falharam aqui. O que nós, estudantes adventistas do sétimo dia, devemos fazer? Um educador resumiu toda a questão de conferição de títulos da seguinte maneira: “Desde o primeiro momento em que um aluno ingressou na escola até o momento final em que colará grau, professores, pais e amigos amorosos unem-se em seus esforços para estimular o aluno a superar algum outro. Os homens usam seus títulos como as 110 | Estudos em Educação Cristã mulheres usam chapéus finos, joias nos cabelos, brincos nas orelhas, anéis nos dedos e fitas esvoaçantes na brisa. Considere, por exemplo, o valor ornamental de um MBA, MA, MS ou PhD, ou o valor social de uma notável combinação de títulos decorativos como a desfrutada pelo Sr. James Brown: MA, PhD, LLD [Doutor em Direito], DD [Doutor em Divindade]. Cada um desses títulos custa tanto quanto um diamante de tamanho moderado, ou uma pérola grande (não a Pérola de grande valor), e é usado praticamente pelo mesmo motivo. Isso não indica necessariamente nada. John Smith, alfaiate; James Brown, ferreiro; Sr. Jones, inspetor, são exemplos de títulos cujo efeito na mente supera o mero efeito decorativo [dos títulos acadêmcios]. Esses indicam o ofício ou a profissão pela qual o homem ganha seu sustento”. Em razão de o título acadêmico simplesmente colocar seu possuidor numa posição que o distingue daqueles que não possuem um, e não ser uma indicação de capacidade para realizações, os homens do mundo secular, ao erigirem uma aristocracia educacional, sentem que é necessá- rio proteger a si mesmos, limitando o poder de conferi-lo. Eles dizem: “Deveria haver uma legislação para regulamentar a conferição de títulos acadêmicos”. O seguinte trecho de um relatório assinado por um bom número de reitores de universidades proeminentes apareceu nas colunas da Educational Review: “O poder de conferição de títulos não deve ser outorgado a qualquer instituição que tenha requisitos de admissão e graduação inferiores ao padrão mínimo estabelecido pela comissão, ou a qualquer instituição cujo subsídio produtivo não seja igual a pelo menos US$ 100.000,00. A lei é admirável e deve ser adotada por todos os estados da união, a fim de que a educação independente e aventureira tenha o mesmo destino dos wildcat bankings. 1 ” (Nicholas Murray Butler, Educational Review, 1891, vol. 16, p. 103). Vocês, por certo, se interessarão na seguinte declaração encontrada em uma carta escrita pelo secretário de educação da denominação adventista do sétimo dia em 1896, relativamente a uma entrevista com a Sra. Ellen G. White sobre esse assunto: 1 A expressão “wildcat banking” refere-se ao período americano compreendido entre 1816 e 1863, no qual não existia nenhum regulamento federal para os bancos. A moeda era emitida pelos bancos privados e tão somente regulada pela situação individual dos bancos estatais. Essa moeda era frequentemente acompanhada pela dívida que os bancos mantinham e mostrava-se bastante instável, o que fazia com que ela perdesse o valor. 3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia | 111 “Expliquei-lhe o significado das titulações acadêmicas e o sentido ligado a elas, e o programa geral de estudos associado a elas segundo a perspectiva de outros educadores, e sua ideia pareceu ser a de que não há nenhuma necessidade de darmos atenção a essas coisas; que precisamos educar para a utilidade aqui e no reino eterno vindouro; e que a questão com nosso povo não é se um jovem tem um título, mas se ele tem uma preparação adequada para ser uma bênção aos outros nesta obra... Eu deveria sentir-me perfeitamente livre para estruturar o trabalho segundo penso ser o melhor para os jovens e para a obra, sem estar preso à ideia de que preciso manter um programa de estudos que me permita conferir títulos acadêmicos de modo sistemático”. O objetivo de nossas escolas deveria ser o de preparar os alunos para levar a mensagem da segunda vinda de Cristo a todo o mundo, e prepará- -los com rapidez. “Sua obra não deve esperar enquanto Seus servos passam por preparações tão admiravelmente elaboradas como as que nossas escolas estão planejando ministrar” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 346). Nossa esperança é que os adventistas do sétimo dia possam livrar-se dessas armadilhas que apanharam as denominações protestantes antes de 1844. 112 | Estudos em Educação Cristã
3 - Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia - Estudos em Educação Cristã
3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia A condição das denominações protestantes em 1844 é ilustrada pelas cinco virgens néscias. Quando o clamor da meia-noite foi dado na primavera daquele ano, a maioria dos líderes dessas denominações tomou posição contra ele. Durante os dias de preparação, eles haviam falhado “em compreender a verdadeira ciência da educação”, e não estavam prontos quando o clímax chegou. Alguns de seus próprios reformadores educacionais haviam se esforçado para preparar as denominações para esse grande evento, mas esses homens do ramo educacional sofreram oposição e foram repelidos por seus líderes eclesiásticos. Portanto, os líderes da igreja não estavam prontos para aceitar a mensagem do primeiro anjo. Houvessem as denominações protestantes entrado “na linha da verdadeira educação”, teriam aceito a primeira mensagem angélica. Isso as teria unido num só corpo novamente. “A igreja de novo teria atingido o bendito estado de unidade, fé e amor que existia nos dias apostólicos, em que era um o coração e a alma dos crentes” (O Grande Conflito, p. 379). As denominações populares haviam sido chamadas pelo Senhor para preparar o mundo para a segunda vinda de Cristo. Elas se recusaram a obedecer, e “aproximadamente cinquenta mil se retiraram das igrejas” (Ibid., p. 376). Desse número, surgiram alguns cristãos robustos, ousados e fiéis que se tornaram os fundadores e líderes da Igreja Adventista do Sétimo Dia. A maioria desses líderes vigorosos “tinha pouca instrução escolar”. Eles haviam recebido sua educação “na escola de Cristo, e sua humildade e obediência os tornaram grandes” (Ibid., p. 456). Eles se formaram por esforço próprio e não tiveram necessidade alguma de gastar muito tempo em desaprender a sabedoria assim recebida, trocando-a por aquele sistema de educação que causou a ruina das denominações protestantes em 1844. O Pr. Tiago White, em seu livro sobre a vida de Guilherme Miller, expressa nas seguintes palavras sua avaliação do sistema educacional que representou a ruína dos protestantes: 90 | Estudos em Educação Cristã “Qual teria sido agora o efeito do que é chamado de curso regular de educação? ... Teria ele realizado seu trabalho adequado, o de discipular, ampliar e abastecer a mente, deixando intactas, durante o processo educativo, suas energias naturais, sua autodependência e seu senso de dependência e responsabilidade para com Deus? Ou será que o teria colocado [Guilherme Miller] nas fileiras apinhadas daqueles que se contentam em partilhar a honra de repetir as tagarelices, sejam verdadeiras ou falsas, que passam por verdades na escola ou seita que os tornou o que são?” (Sketches of the Christian Life and Public Labors of William Miller, p. 15, 16). Os Adventistas do sétimo dia chamados para ser reformadores: — Esses bravos reformadores cristãos estavam agora diante de uma situação semelhante à enfrentada pelos refugiados cristãos que fugiram da Europa para o litoral da América buscando a implantação de uma nova ordem de coisas. Mas “os reformadores ingleses, conquanto renunciassem às doutrinas do romanismo, retiveram muitas de suas formas” (O Grande Conflito, p. 289). Os fundadores da Igreja Adventista do Sétimo Dia tinham deixado igrejas apóstatas e, como os reformadores ingleses, ficaram impressionados com a condição dessas igrejas, mas, embora denunciassem as doutrinas papais encontradas nas igrejas protestantes apóstatas, não conseguiram perceber todos os erros dessas igrejas. Os reformadores de 1844 também sofreram perseguição, como aconteceu com os reformadores ingleses antes de virem para este país. Deles é dito: “Muitos eram perseguidos por seus irmãos descrentes” (Ibid., p. 372). Durante os primeiros poucos anos da história da Igreja Adventista do Sétimo Dia, encontramos os fundadores pesquisando a Bíblia em busca das grandes doutrinas fundamentais da terceira mensagem angé- lica, que revelavam falsas doutrinas e certas falácias que haviam se introduzido nas igrejas populares; eles estavam escrevendo e publicando essas sãs doutrinas para o mundo e desenvolvendo uma organização cristã. Eles fizeram bem o seu trabalho. Mas o que estava sendo feito para a educação das crianças e dos jovens durante esse período de formação? Muitos deles estavam frequentando as mesmas escolas que antes haviam treinado homens para repudiar a luz da primeira mensagem angélica. Muitos dos reformadores ficaram perturbados com a situação. Começaram a entender que, se mantivessem as crianças nessas escolas, com o tempo, elas seriam levadas a considerar a 3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia | 91 verdade como seus professores que não demonstravam nenhuma simpatia para com a mensagem. Luz veio de Deus sobre o problema da educação. Os pais adventistas do sétimo dia foram instruídos a tirar os filhos das escolas públicas, e estabelecer escolas que ofereciam formação cristã. “Ao me ser mostrado pelo anjo de Deus que se deveria estabelecer uma instituição para a educação de nossos jovens, vi que esse seria um dos maiores meios ordenados por Deus para a salvação de almas” (Christian Education, p. 25). Estabelecer escolas parecia uma tarefa grande demais para a maioria de nosso povo naquela época. O sentimento era semelhante ao dos filhos de Israel diante do desafio de conquistar Canaã. Muitos filhos de lares adventistas foram retirados das escolas do mundo, mas a igreja não teve fé para estabelecer escolas e apegar-se à promessa do Senhor de prover professores cristãos. Então, por um tempo, as crianças ficaram sem as vantagens de uma educação formal. Os pais perceberam que algo devia ser feito, mas como não tinham fé para obedecer à Palavra de Deus nessa questão, gradualmente colocaram os jovens de volta nas escolas mundanas. Assim começaram as vagueações dos adventistas do sétimo dia no deserto da educação mundana. Eles deixaram de compreender “a verdadeira ciência da educação”. A obra foi retardada, e, “por causa disso, estamos muito aquém de onde deveríamos estar no desenvolvimento da mensagem do terceiro anjo”. Essa experiência ocorreu por volta de 1860; em 1901, quarenta anos depois, veio esta mensagem: “É o começo da reforma educacional”. A seguinte instrução foi dada durante as peregrinações no deserto educacional: “Deveriam ter sido tomadas providências nas gerações passadas para uma obra educacional em maior escala. Ligados às escolas, deveria ter havido estabelecimentos de manufatura e de agricultura, como também professores de trabalhos domésticos. E uma parte do tempo diário deveria ter sido dedicada ao trabalho, de modo que as faculdades físicas e mentais pudessem exercitar-se igualmente. Se escolas tivessem sido estabelecidas de acordo com o plano que mencionamos, não haveria agora tantas mentes desequilibradas... Se o sistema de educação de gerações passadas tivesse sido conduzido de acordo com um plano totalmente diferente, a juventude desta geração não estaria agora tão depravada e inútil” (Christian Education, p. 18, 11). 92 | Estudos em Educação Cristã Com base nos registros da Review and Herald, concluímos que houve considerável agitação sobre questões educacionais até a fundação do Colé- gio de Battle Creek, em 1874. Nessa época, muitos dos líderes começaram a entender mais amplamente os resultados do terrível erro cometido em não seguir as instruções dadas na década de cinquenta em relação à educação. A necessidade de escolas era evidente. O irmão A. Smith, escrevendo para a Review and Herald (vol. 40, no. 2), disse: “Qualquer um que tenha a mínima familiaridade com nossas escolas comuns, está consciente de que a influência resultante de se associar com elas é terrível sobre o comportamento dos nossos filhos. ... Eu não sei por que moças não poderiam receber uma qualificação por meio de um programa de estudos em Battle Creek a fim de servirem como professoras em escolas selecionadas em nossas grandes igrejas”. Temos aqui uma sugestão para a criação de escolas paroquiais. Uma escola paroquial foi fundada em Battle Creek por volta dessa época. O professor que foi o principal articulador nesse empreendimento era um reformador educacional; e se a reforma que ele defendia houvesse sido acolhida favoravelmente e praticada de forma inteligente, os adventistas do sétimo dia teriam saído do deserto educacional muito antes do que o fizeram. As ideias sobre educação que esse homem possuía eram semelhantes às reformas ensinadas antes de 1844. Deus desejava que, quando a obra educacional de fato começasse entre os adventistas do sétimo dia, ela deveria ser estabelecida sobre um fundamento pelo menos igual ao que marcou o movimento de reforma educacional anterior a 1844. Deus enviara para os adventistas do sétimo dia um educador que havia aceitado a mensagem do terceiro anjo, e que estava pronto para começar a obra educacional entre nós a partir do estágio em que as reformas educacionais haviam parado antes de 1844. Essa reforma, se acatada, teria colocado a obra educacional dos adventistas do sétimo dia numa posição diante do mundo correspondente à que a obra hospitalar dos adventistas do sétimo dia possuía. O primeiro sanatório adventista do sétimo dia rapidamente se alinhou com todas as ideias avançadas ensinadas e praticadas antes de 1844. E se há uma coisa, acima de outras, que tem tornado os adventistas do sétimo dia distintos perante o mundo, trata-se de seus princípios da reforma de saúde e a obra hospitalar. Eles tiveram igual oportunidade no mundo educacional. 3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia | 93 As seguintes palavras mostram a gravidade do erro que foi cometido quando esse reformador educacional, que tinha chegado em nosso meio, foi criticado e rejeitadas as suas reformas: “Em termos de educação, o século atual se caracteriza pela superficialidade e ostentação. O irmão _______ possui um interesse natural por planejamento e organização, que se lhe tornaram um hábito graças a toda uma vida de preparo e disciplina. Ele foi aprovado por Deus agindo assim. Seus trabalhos são de real valor, porque ele não permite que os estudantes sejam superficiais. No entanto, logo que iniciou seu trabalho no sentido de estabelecer uma escola, ele enfrentou muitos obstáculos. ... Alguns pais negligenciaram o sustento da escola, e seus filhos não respeitaram o professor porque ele usava roupa humilde. ... O Senhor aprovou de modo geral o procedimento do irmão _______, ao lançar ele os fundamentos para a escola que está agora em atividade” (Testemunhos para a Igreja, Vol. 5, p. 90, 91). Essa escola paroquial veio a tornar-se o Colégio de Battle Creek. O Colégio de Battle Creek deveria ter sido estabelecido no campo: — Os promotores do Colégio de Battle Creek foram instruídos a estabelecer a escola numa grande extensão de terra, onde várias indústrias poderiam ser criadas e a escola se tornasse uma instituição de formação manual, sendo conduzida de acordo com as ideias educacionais reformadoras. A declaração a seguir, que aparece no Boletim da Conferência Geral de 1901, página 217, foi feita pelo Pr. Haskell, e dizia respeito à fundação do Colégio de Battle Creek: “Lembro-me do tempo em que o terreno atual foi selecionado para a localização do Colégio aqui em Battle Creek. ... A irmã White, falando à comissão responsável pela escolha do local, disse: ‘Erija-se a escola num terreno distante da cidade densamente habitada, onde os alunos possam trabalhar a terra.’” No mesmo Boletim da Conferência Geral, às páginas 115 e 116, encontra-se a seguinte declaração da Sra. White sobre a localização do Colégio de Battle Creek: “Alguns podem ficar incomodados por causa da transferência da escola de Battle Creek, mas não precisam ficar assim. Essa mudança está de acordo com o plano de Deus para a escola antes de a instituição ser criada, mas os homens não conseguiam enxergar como isso poderia ser feito. Havia muitos que diziam que a escola deveria estar em Battle Creek. Agora dizemos que ela deve ir para outro 94 | Estudos em Educação Cristã lugar. A melhor coisa a fazer é desfazer-se dos prédios da escola aqui, assim que possível. Que se comece imediatamente a procurar um lugar onde a escola possa ser construída dentro dos moldes corretos. ... Obtenha-se uma extensa faixa de terra e ali se comece o trabalho que solicitei que fosse iniciado antes de a escola ser estabelecida aqui. ... Nossas escolas deveriam estar localizadas longe das cidades, numa extensa faixa de terra, para que os estudantes tenham a oportunidade de fazer trabalho manual”. Do acima exposto, vemos que, quando o Colégio de Battle Creek foi estabelecido, não havia suficiente fé e coragem para erguer uma instituição de ensino entre os adventistas em área rural, numa fazenda, onde os reformadores educacionais anteriores a 1844 haviam localizado suas escolas. A causa dessa incapacidade de valorizar o sistema educacional para o qual Deus os estava chamando deveu-se ao fato de que os líderes da denominação haviam recebido sua educação em escolas que haviam repudiado as ideias de reforma defendidas antes de 1844. A importância da formação manual e reformas afins não havia se firmado na mente deles como ocorreu com Oberlin, que, durante sua experiência de reforma, inculcou essas ideias na mente de seus alunos. Então, também os adventistas do sétimo dia, muitos anos antes da criação de sua primeira instituição educacional, não tiveram fé para obedecer a Deus na criação de escolas simples, segundo o plano correto, para educar as crianças que deveriam ter sido retiradas das escolas públicas. As crianças adventistas, cujos pais, por falta de fé, deixaram de tirá-las das escolas públicas, estavam agora entre os líderes da denominação. Sua fé e coragem quanto à reforma educacional eram débeis, e seus olhos estavam tão cegos para a verdadeira ciência da educação cristã quanto os de seus pais, que não lhes propiciaram escolas cristãs. A ideia é assim expressa: “Se pastores e professores tivessem plena consciência de sua responsabilidade, veríamos um diferente estado de coisas no mundo hoje, mas eles são demasiado estreitos em seus pontos de vista e propó- sitos. Não compreendem a importância do seu trabalho ou os seus resultados” (Christian Education, p. 24). E assim, por causa da incredulidade, o primeiro colégio adventista foi estabelecido onde Deus disse que não deveria estar, e, em lugar dos princípios e métodos reformatórios da educação cristã, foram introduzidos os princípios, métodos, condutas, estudos e ideais dos colégios das denominações protestantes ao seu redor. Portanto, sob tais circunstâncias, era 3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia | 95 nessa instituição em que deveriam ser treinados os futuros missionários da denominação — os missionários que, ao prepararem os jovens para o alto clamor, deveriam evitar os erros que enlaçaram os jovens das denominações protestantes antes de 1844, quando era iminente o clamor da meia-noite. Os resultados do fracasso: — Nossa primeira instituição de ensino logo começou a produzir uma abundante safra de frutos educacionais mundanos, e o Senhor claramente avalia a qualidade desses frutos e do sistema que os produziu, e fornece alguns sábios conselhos sobre qual o melhor rumo a seguir. “Se uma influência mundana vier a dominar nossa escola, seja ela então vendida aos mundanos, e assumam eles o total controle; e os que investiram seus recursos nessa instituição estabelecerão outra escola para ser dirigida, não de acordo com o plano das escolas populares, nem segundo a vontade de diretores e mestres, mas de acordo com o plano especificado por Deus. ... Nosso colégio está hoje numa posição que Deus não aprova” (Testemunhos para a Igreja, Vol. 5, p. 25, 27). Uma oportunidade para reforma: — Não é nosso propósito entrar na história do Colégio de Battle Creek. Ele realizou muito bem, mas sua localização e o sistema educacional primeiramente adotado tornaram difícil a realização de uma reforma educacional cristã. No entanto, em diferentes ocasiões, foram feitos grandes esforços para promover reformas. A declaração a seguir conta de forma concisa toda a história do Colégio de Battle Creek: “Nossas instituições de ensino podem pender para a conformidade mundana. Podem avançar passo a passo em direção ao mundo; são, porém, prisioneiras de esperança, e Deus as corrigirá e iluminará, trazendo-as de volta à sua honrada posição de separação do mundo” (Testemunhos para a Igreja, Vol. 5, p. 25, 27). O Colégio de Battle Creek, em Battle Creek, como o Israel do passado, oscilou, ora para frente, em direção ao plano de Deus, ora para trás, em direção ao sistema educacional mundano. Mas ele era um “prisioneiro de esperança” e, como já foi dito por Ellen White no Boletim da Conferência Geral de 1901, Deus o trouxe de volta à sua verdadeira posição. Em outras palavras, Ele o colocou na zona rural onde disse que a escola deveria ser fundada e onde ela poderia fazer avançar os princípios da educação cristã. Vimos que Deus enviou claras e positivas instruções para guiar os líderes adventistas do sétimo dia quanto à localização e estabelecimento 96 | Estudos em Educação Cristã de seu primeiro colégio. Somos informados de que essa instrução não foi plenamente cumprida. A fé deles não foi forte o suficiente para tentar pôr em prática esse e outros importantíssimos e fundamentais princípios da educação cristã, tais como: o plano de tornar a Bíblia a base de todas as disciplinas ministradas; a rejeição da literatura prejudicial; a eliminação de cursos tradicionais e suas titulações; a incorporação da fisiologia como base de todo esforço educacional; o treinamento manual; o trabalho agrí- cola; a reforma no estilo dos edifícios, na alimentação, etc. Os Adventistas do Sétimo Dia aderem à educação papal: — O fracasso deles em todas essas direções deveu-se à mesma experiência que causou o insucesso dos reformadores em estabelecer um fundamento para a obra educacional, a qual teria qualificado um exército de cristãos missionários para dar a primeira mensagem angélica. “Os reformadores ingleses, conquanto renunciassem às doutrinas do romanismo, mantiveram muitas de suas formas” (O Grande Conflito, p. 289). É do nosso conhecimento que, embora os reformadores ingleses tenham rompido com as doutrinas papais, em grande parte por ignorância dos resultados, eles não hesitaram em adotar em peso o sistema papal de educação. Eles pensaram que a introdução de pequenas fatias de ensino bíblico no sanduíche da educação adotada e a aromatização de seus ensinos com alguma instrução religiosa era tudo que precisavam para fornecer uma educação cristã. Estavam enganados. A longa história de fracassos espirituais neste país foi o fruto colhido. Como resultado dessa ignorância, as igrejas protestantes foram conduzidas ladeira abaixo a uma condição que muito se assemelhava ao próprio papado, e foram chamadas de Babilônia. Nossos próprios líderes adventistas do sétimo dia deixaram essas denominações protestantes como os reformadores ingleses haviam deixado as igrejas papais europeias. Eles romperam com as doutrinas papais mantidas pelas igrejas protestantes, assim como fizeram os reformadores ingleses. Mas, a exemplo deles, levaram consigo, das denominações protestantes, um sistema educacional que era papal em espírito. Os reformadores ingleses lutaram durante anos para deter a corrente de apostasia. Eles não compreenderam a filosofia do declínio de sua experiência religiosa. No entanto, os resultados vieram finalmente, terríveis, mas certos. Ficaram moralmente arruinados e foram postos de lado, porque haviam falhado em “entrar na linha da verdadeira educação”. Uma bela perspectiva foi totalmente destruída pelas artima- 3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia | 97 nhas do arqui-inimigo. Isso foi possível através da ignorância dos princí- pios da educação cristã por parte de muitos grandes e bons homens. Nestes últimos dias, Satanás, se possível, enganará os próprios escolhidos. Há alguma razão por que ele não deveria usar o mesmo método que se tem mostrado tão eficaz em suas mãos através de todas as épocas, quer seja na subversão da igreja judaica e da igreja apostólica, quer por meio da neutralização, através dos jesuítas, da grande reforma do século XVI, ou mesmo ao frustrar os esforços dos reformadores ingleses que tentaram estabelecer na costa da América a igreja para sua luta final? Vamos traçar novamente o sistema atual de educação mundana até sua fonte. O plano educacional do nosso primeiro colégio foi tomado emprestado, em grande parte, das escolas religiosas das denominações protestantes. Essas denominações receberam sua luz educacional das instituições de ensino mais antigas do país, como Harvard e Yale. Harvard e Yale, como vimos, a tomaram emprestada de Oxford e Cambridge. Oxford e Cambridge são filhas da Universidade de Paris. A Universidade de Paris, presidida unicamente pelos romanistas, era totalmente papal, e é a mãe das universidades europeias. Ela tomou emprestado seu sistema de ensino de Roma pagã. Roma pagã “assimilou em seu sistema os elementos das culturas grega e oriental”. As escolas gregas extraíram sua sabedoria e inspiração do Egito. “Os antigos olhavam para o Egito como uma escola de sabedoria. A Grécia enviava para lá seus ilustres filósofos e legisladores — Pitá- goras e Platão, Licurgo e Sólon — para completar seus estudos. ... Por isso, mesmo os gregos da antiguidade estavam acostumados a tomar emprestadas sua política e aprendizagem dos egípcios” (A History of Education, p. 32-34). O Egito, portanto, deve ser reconhecido como a fonte de toda a sabedoria secular que vale a pena estudar. Este sistema secular de educação do Egito é certamente duradouro, ou não teria chegado até nós através dessas longas eras. Em essência, foi esse espírito filosófico egípcio que tornou tão atraente para os homens deste mundo a assim chamada literatura clássica. A sabedoria do Egito tem se mantido viva no mundo por alunos que, enquanto na escola, estudam sua filosofia e extraem sua inspiração a partir dos clássicos. É estranho dizer, mas o mais poderoso fator que tem contribuído para manter viva essa educação egípcia tem sido a própria igreja cristã. Por várias razões, em diferentes momentos, ela não só per- 98 | Estudos em Educação Cristã mitiu, mas encorajou os jovens a estudar esses escritos. Reiteradas vezes a igreja vem sendo enganada por essa sabedoria egípcia, assim como Eva foi enganada pelo conhecimento do bem e do mal. Os cristãos têm revestido essa filosofia sutil com trajes religiosos (você reconhece aqui o papado?), e a espalharam por toda parte. Essa filosofia egípcia arruinou todas as igrejas até 1844, e os adventistas do sétimo dia foram informados de que “agora, como nunca antes, precisamos compreender a verdadeira ciência da educação. Se deixarmos de compreender isso, jamais teremos lugar no reino de Deus”. É contra essa filosofia egípcia que Deus nos adverte nas palavras citadas acima. É exatamente essa filosofia, tão sutil, que Deus tem em mente quando adverte a igreja que “se possível, ‘ele’[Satanás] enganaria os próprios escolhidos”. Nós, jovens adventistas do sétimo dia, deveríamos estudar a pessoa de Moisés, que, “instruído em toda a sabedoria dos egípcios”, graduado pela maior instituição educacional do mundo de então, e reconhecido como um gigante intelectual, abandonou todas as coisas que a educação egípcia lhe tornou possível desfrutar, e entrou na escola de treinamento de Deus no deserto. “Não foi o ensino das escolas do Egito que habilitou Moisés a triunfar sobre todos os seus inimigos, mas uma persistente e infalível fé, fé que não experimentou o fracasso sob as mais probantes circunstâncias” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 345). Depois de passar quarenta anos esquecendo sua educação secular e adquirindo a sabedoria de Deus, Moisés qualificou-se para estar à frente da maior escola de formação prática jamais conhecida. “Que escola de formação prática para a vida era aquela no deserto!” (Educação, p. 37). Foram necessários mais quarenta anos para que os alunos dessa escola rompessem o jugo do sistema educacional egípcio e entendessem “a verdadeira ciência da educação” para que pudessem ter um lugar na terra de Canaã. Cristo chama homens para que abandonem o sistema egípcio de educação: — Mas a coisa mais importante para nós, jovens adventistas do sétimo dia, é estudar o grande Mestre, de quem se diz: “Do Egito chamei Meu Filho”. Tão completamente foi o Filho de Deus chamado para fora do Egito que, quando criança, nunca lhe foi permitido frequentar até mesmo as escolas religiosas judaicas, visto estarem muito saturadas da educação egípcia secularizada. As crianças adventistas do sétimo dia têm igual oportunidade. Estudem a vida do Mestre na humilde escola do lar 3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia | 99 em Nazaré, na oficina e no campo, nas colinas e nos vales. Ele cresceu em sabedoria, até que, com a idade de doze anos, deslumbrou os líderes da igreja com o fruto de Sua educação cristã. “Observai os aspectos da obra de Cristo... Embora Seus discípulos fossem pescadores, Ele não aconselhou que frequentassem em primeiro lugar a escola dos rabis antes de iniciarem o trabalho” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 359). Por quê? Porque as escolas dos rabinos estavam cheias da filosofia grega e egípcia que cegam os olhos para verdades espirituais. Foi a um professor de uma dessas escolas que Cristo disse: “Importa-vos nascer de novo”. Deus nos pede que estabeleçamos escolas para nossos filhos a fim de que possam obter Sua sabedoria e entendimento mesmo em seus mais tenros anos. Os estudantes adventistas do sétimo dia deveriam afastar-se para sempre desse sistema de educação mundana — a sabedoria do Egito — que têm destruído as perspectivas de cada igreja cristã até o surgimento dos adventistas do sétimo dia. E nós, individualmente, estamos em perigo de cair nessa mesma sabedoria egípcia. “Encho-me de tristeza quando penso em nossa condição como povo. O Senhor não nos cerrou o Céu, mas nosso próprio procedimento de constante apostasia tem nos separado de Deus. ... E, no entanto, a opinião geral é que a igreja está florescendo, e que paz e prosperidade espiritual se encontram em todas as suas fronteiras. A igreja tem deixado de seguir a Cristo, seu Líder, e está constantemente retrocedendo rumo ao Egito” (Testemunhos para a Igreja, p. 217). Antes de 1844, o Espírito de Deus enviou mensagens para as denominações protestantes, dizendo-lhes de sua condição em linguagem muito semelhante à que acabamos de citar. Elas deixaram de compreendê-la, porque, como vimos, o sistema papal de educação, que inadvertidamente introduziram em suas escolas paroquiais, havia extinguido sua visão espiritual e ensurdecido seus ouvidos à Palavra de Deus. Elas não entenderam “a verdadeira ciência da educação”; não entraram “na linha da verdadeira educação”, e foram rejeitadas. Estudiosos da história da educação reconhecem a força desta afirmação: “A Igreja está constantemente retrocedendo rumo ao Egito”, pois esse sistema papal de educação tem suas raízes no sistema filosófico e de aprendizagem egípcio, o qual Deus pediu que Seu antigo povo abandonasse para sempre. Percebendo os resultados alcançados por outras organizações cristãs, não é difícil ficarmos desanimados 100 | Estudos em Educação Cristã quando vemos nossa primeira escola moldada em grande medida segundo as escolas das igrejas populares, especialmente em vista do fato de que “os costumes e práticas da escola de Battle Creek passam a todas as igrejas, e as pulsações provindas do coração dela repercutem por todo o corpo de crentes” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 223). Mas temos a boa promessa do nosso Deus: “Nossas instituições de ensino podem pender para a conformidade com o mundo. Passo a passo podem elas avançar para o mundo; mas, são prisioneiras da esperança, e Deus as corrigirá e iluminará, trazendo-as de volta à sua honrada posição de separação do mundo. Estou observando com intenso interesse, esperando ver nossas escolas completamente imbuídas do espírito de religião pura e sem mácula. Quando os alunos estiverem assim imbuídos, verão que há uma grande obra a ser feita segundo o padrão seguido por Cristo, e o tempo que eles têm dedicado às diversões será empregado para a realização de diligente trabalho missionário” (Ibid., p. 290 [9 de janeiro de 1894]). Os Adventistas do Sétimo Dia foram chamados para ser reformadores: — Cada fiel adventista do sétimo dia, percebendo a linhagem de nossas instituições de ensino e a esperança que lhes é estendida, vai se esforçar para ajudar a colocar na posição correta cada escola que se achar em desarmonia com o plano divino. Todo método utilizado em nossas escolas deveria ser submetido ao teste divino. “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva”. Tudo o que não se provar genuíno deve ser descartado. Em lugar de tratar a situação superficialmente ou condescender com críticas reacionárias, como muitos trataram reformas do passado, especialmente as reformas de 1834-1844, estudemos com oração a seguinte instrução: “Precisamos agora recomeçar novamente. Reformas devem ser introduzidas com alma, coração e vontade. Os erros podem estar encanecidos pela idade; esta, porém, não torna o erro verdade, nem a verdade erro. Os antigos costumes e hábitos, como um todo, têm sido seguidos por demasiado tempo. O Senhor deseja agora que toda ideia falsa seja afastada de professores e alunos... Aquilo que o Senhor ensinou quanto à instrução a ser ministrada nas nossas escolas deve ser rigorosamente observado, pois, se não houver em alguns aspectos uma educação inteiramente diversa da que tem sido seguida em algumas de nossas escolas, não precisávamos ter gasto 3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia | 101 recursos para a aquisição de terras e a construção de edifícios escolares” (Testemunhos para a Igreja, Vol. 6, p. 142). O Colégio de Battle Creek: modelo para outras escolas: — Como o Colégio de Battle Creek foi a primeira escola em nosso meio, seu exemplo foi seguido por praticamente todas as demais escolas estabelecidas pela denominação. Elas modelaram seus programas de estudo segundo o padrão adotado ali. Elas imitaram os seus métodos de ensino e, em grande medida, seguiram seu plano de localização e erigiram seus edifícios conforme o padrão seguido pela escola de Battle Creek. “Os costumes e práticas da escola de Battle Creek passam a todas as igrejas, e as pulsações desta escola repercutem por todo o corpo de crentes” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 224). Esses fatos devem nos ajudar a compreender melhor a declaração feita quando se decidiu transferir o Colégio de Battle Creek da cidade de Battle Creek para uma fazenda. “Estamos gratos pelo interesse mostrado em estabelecer escolas sobre um fundamento correto, conforme deveria ter sido feito anos atrás” (General Conference Bulletin, 1901, p. 455). A segunda escola estabelecida entre os adventistas localizou-se em Healdsburg, Califórnia. Foi feita uma tentativa pelos organizadores dessa escola de seguir a instrução do Senhor na questão da localização. Embora Healdsburg não estivesse localizada na cidade, como havia sido o colé- gio de Battle Creek, todavia, seguindo o exemplo de Ló, os fundadores imploraram para ir a uma cidadezinha. O Colégio de Healdsburg situou-se nos arredores de uma pequena cidade. A despeito de os líderes se esforçarem para estabelecer o perfil de uma escola com trabalhos manuais, sua infeliz localização num pequeno pedaço de terra, a manutenção de cursos e respectivas titulações nos moldes tradicionais, e a forte influência exercida pelo Colégio de Battle Creek, logo fizeram com que Healdsburg se movesse em direção à conformidade com o mundo. Mas palavras de esperança também foram-lhe ditas: “Passo a passo podem elas avançar para o mundo; mas, são prisioneiras da esperança, e Deus as corrigirá e iluminará, trazendo-as de volta à sua honrada posição de separação do mundo” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 290). Mais de um quarto de século após seu estabelecimento, o Colégio de Healdsburg mudou-se para uma extensa área de terra próxima à Santa 102 | Estudos em Educação Cristã Helena, Califórnia, e o colégio em sua nova localização ficou em condições de iniciar sua reforma educacional, assim como foi dito que o Colégio de Battle Creek atingiu sua posição adequada ao se estabelecer no campo. No volume 6 dos Testemunhos, página 138, o seguinte é dito a nosso povo: “Devem ser estabelecidas escolas, não tão elaboradas como as de Battle Creek e College View, porém mais simples, com prédios mais humildes, e com professores que adotem os mesmos planos que eram seguidos nas escolas dos profetas”. Mais uma vez, no mesmo volume, está escrito: “Precisamos agora recomeçar novamente. Cumpre efetuar reformas com alma, coração e vontade” (Ibid., p. 142). Vimos a necessidade de o Colégio de Battle Creek e o de Healdsburg começarem seu trabalho novamente. Os professores nessas escolas têm agora a oportunidade de “adotar os mesmos planos que eram seguidos nas escolas dos profetas”, e empreender as reformas educacionais com “alma, coração e vontade”. Cursos tradicionais: — Uma das principais reformas, requeridas para romper com o sistema papal de educação, tem que ver com cursos e a conferição de títulos de graduações, visto que a queda moral das igrejas protestantes pode ser atribuída, quase que diretamente, aos cursos tradicionais oferecidos em suas escolas, com seus respectivos títulos acadê- micos. Via de regra, seus ministros eram obrigados a concluir um curso e receber um título de graduação, e isso muitas vezes afetou sua independência em seguir a Palavra de Deus; tal sistema reprimia sua individualidade e originalidade. Declara-se o seguinte acerca desses escolares: “[eles são] uma representação estereotipada daquilo que o curso os torna; se eles (os graduados) conseguem erguer um companheiro do lamaçal, nunca o deixarão mais perto do Céu do que a escola onde foram educados... Eles estão felizes em partilhar a honra de repetir as tagarelices, verdadeiras ou falsas, que passam por verdade, na escola ou seita que fizeram deles o que são” (Sketches of the Christian Life and Public Labors of William Miller, p. 16). Os cristãos primitivos propagaram o evangelho rapidamente e de forma eficaz pelo mundo. Em sua escola, ensinavam somente as matérias que preparariam o aluno para fazer a obra do Senhor. Seus educadores eram vistos pelo mundo como “extremistas esquisitos, estranhos e austeros”. Tudo era feito por esses educadores cristãos com o propósito de pre- 3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia | 103 parar rapidamente o aluno para desempenhar o papel de bom soldado na batalha. Os estudantes não eram retidos na escola para concluir um curso e receber um título acadêmico, um costume em voga nas escolas seculares. Mais tarde, professores cristãos meio-convertidos do paganismo introduziram a ideia de cursos com vistas à titulação acadêmica cujo resultado foi o desenvolvimento de um monopólio educacional controlado pelos líderes da igreja, e ninguém tinha permissão para ensinar ou pregar até que tivesse terminado um curso e recebido um diploma. Uma das objeções mais graves levantadas contra esse plano é que ele fecha a mente do estudante à verdade. Praticamente todas as reformas religiosas são efetuadas através de leigos humildes, porque os líderes da igreja, via de regra, ao adquirirem sua educação, tornam-se conservadores. O conservadorismo é o resultado de passar por um curso rígido e mecânico de estudos voltado para a obtenção de um título acadêmico. O aluno é mantido numa rotina, cansativamente rodando um moinho, sendo descrito como alguém que anda indefinidamente, nunca chegando a lugar algum. Consequentemente, quando a verdade é apresentada a esses acadêmicos, especialmente quando apresentada por um leigo, ela não é vista com bons olhos, pois eles chegaram ao ponto de se considerar como o canal autorizado através do qual a luz deve chegar ao povo. A verdade dessa afirmação é corroborada por fatos históricos. Motley, citando a experiência de reformadores na Holanda, escreve sobre a restrição imposta aos leigos pelo sistema papal de educação: “Proibimos todas as pessoas leigas de conversar ou debater sobre as Sagradas Escrituras, de forma aberta ou secreta, especialmente sobre qualquer assunto difícil ou duvidoso, ou ler, ensinar ou explicar as Escrituras, a menos que tenham estudado teologia devidamente e sido aprovados por alguma universidade de renome” ( John Lothrop Motley, The Rise of the Dutch Republic, p. 134 [Volume Único, ed. de 1863]). Ele acrescenta, contudo, que “para o inexprimível desgosto dos conservadores na igreja e no estado, aqui havia homens com pouca instrução, totalmente desprovidos de conhecimento do hebraico, de condição humilde — chapeleiros, cavalariços, curtidores, tintureiros e ofícios semelhantes — que começaram a pregar. Tal fato nos faz lembrar que os primeiros discípulos selecionados pelo Fundador do cristianismo 104 | Estudos em Educação Cristã não eram todos doutores em teologia, com diplomas de universidades renomadas” (Ibid., p. 264). O Senhor sabe que um curso rígido, com vistas à obtenção de um título, frequentemente introduz na igreja “muitos homens segundo a carne... muitos poderosos... muitos nobres” em vez de produzir líderes que estão conscientes de que “Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar as sábias... a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus”. A maior parte dos acadêmicos que viveram por volta de 1844 rejeitou a mensagem do primeiro anjo porque não lhes chegou de acordo com a maneira tradicional. “O fato de ser a mensagem em grande parte pregada por leigos, era insistentemente apresentado como argumento contra a mesma. ... Multidões, confiando implicitamente em seus pastores, recusaram-se a ouvir a advertência” (O Grande Conflito, p. 380). Os Adventistas do Sétimo Dia serão provados nesse mesmo ponto: — “Ao chegar o tempo para que ela [a mensagem do terceiro anjo] seja dada com o máximo poder, o Senhor operará por meio de humildes instrumentos, dirigindo a mente dos que se consagram ao Seu serviço. Os obreiros serão qualificados mais pela unção de Seu Espírito do que pelo preparo das instituições de ensino” (O Grande Conflito, p. 606). No tempo do alto clamor, Satanás trabalhará com todo o seu poder de engano, a fim de introduzir como líderes na Igreja Adventista do Sétimo Dia, homens que considerarão a obra dos humildes instrumentos — os que são guiados pelo Espírito de Deus mas que não se graduaram em instituições acadêmicas — com o mesmo desfavor com que os líderes das igrejas protestantes consideraram tais irregularidades antes de 1844. Deus quer milhares de homens treinados em nossas escolas, mas Ele não deseja que eles recebam um tipo de treinamento que fará com que a atitude deles para com a verdade seja a mesma que a dos acadêmicos de outras denominações antes de 1844. A questão de vital importância para nós, adventistas do sétimo dia, é: Podemos obter uma educação liberal e prática para o trabalho de Deus, sem sermos estragados pelo treinamento? Precisa haver alguma saída. Quando o Colégio de Battle Creek estava incentivando os estudantes a fazer cursos que proporcionavam graduação e moldados segundo as escolas seculares, foi-lhe dada a seguinte instrução: “Os próprios alunos não cogitariam em semelhante demora para ingressarem na obra, se esta não lhes fosse recomendada com insistência por aqueles cuja missão é a 3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia | 105 de ser pastores e tutores”. Esse sistema foi descrito como “este prolongado processo de aumentar cada vez mais o tempo e os ramos de estudo”. O Senhor expressou Seu desagrado com estas palavras: “O preparo dos estudantes tem sido conduzido de acordo com o mesmo princípio utilizado na construção de edifícios... Deus está clamando — e isso já há anos — por uma reforma nesses aspectos. ... Ao passo que tanto se emprega para colocar alguns em um exaustivo programa de estudos, muitos há que se acham sedentos do conhecimento que poderiam alcançar em alguns meses; um ou dois anos seriam considerados grande bênção. Deem aos alunos um começo, mas não considerem ser o dever de vocês mantê-los [na escola] por vários anos. É dever deles saírem para o campo para trabalhar” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 337, 338). “O aluno não deveria permitir-se ficar preso a nenhum curso particular de estudo que envolva longos períodos de tempo, mas ser guiado nesses assuntos pelo Espírito de Deus... Gostaria de advertir os estudantes a não dar um passo neste sentido, nem mesmo por conselho de seus instrutores, ou de homens em posição de autoridade, a não ser que hajam primeiro buscado a Deus em particular, com o coração aberto às influências do Espírito Santo, e recebido dEle conselho com relação ao desejado programa de estudos. Deixem de lado todo desejo egoísta de alcançar distinção... Por parte de muitos alunos, o motivo e ideal que os levaram a entrar na escola estão gradualmente sendo perdidos de vista, e uma ambição não santificada de adquirir educação elevada os tem levado a sacrificar a verdade... Muitos há que estão amontoando demasiados estudos num restrito período de tempo. ... Aconselharia, porém, limites rídigos em seguir esses métodos de educação que põem em risco a alma e anulam o desígnio para o qual tempo e dinheiro estão sendo gastos. A educação é uma grande obra vitalícia... Depois de haver sido dedicado ao estudo um período de tempo, que ninguém aconselhe os alunos a entrar novamente noutro curso de estudos, mas, ao contrário, que sejam aconselhados a entrar na obra para a qual estiveram se preparando. Sejam eles aconselhados a pôr em prática as teorias que aprenderam... Os que dirigem a obra de educação estão colocando excessiva quantidade de estudos diante dos que têm vindo a Battle Creek a fim de se prepararem para a obra do Mestre. Eles têm suposto que lhes é necessário aprofundar-se cada vez mais nos ramos educacionais; e enquanto seguem diversos cursos de estudos, muitos anos preciosos estão escoando” (Ibid., p. 347-353). 106 | Estudos em Educação Cristã “O pensamento que se deve conservar diante dos alunos é que o tempo é breve, e que se devem preparar rapidamente para fazer a obra essencial para este tempo... Compreendam que minhas palavras em nada têm a intenção de depreciar a educação, mas falo a fim de advertir os que se acham em risco de levar o que é lícito a extremos ilícitos” (Ibid., p. 354, 357). Os resultados de seguir este plano de educação são bem ilustrados pelas experiências do Colégio de Battle Creek, quando trabalhavam arduamente para seguir os cursos tradicionais com vistas à obtenção de títulos acadêmicos, que o corpo docente esperava serem vistos com favor pelo mundo. As seguintes palavras mostram o perigo de receber esse tipo de educação: “O Espírito Santo tem vindo muitas vezes a nossas escolas e não tem sido reconhecido, mas tratado como estranho, talvez mesmo como intruso”. “Repetidamente o celeste Mensageiro tem sido enviado à escola”. “O próprio Mestre grandioso esteve entre vocês. De que maneira vocês O honraram? Foi Ele um estranho para alguns dos educadores?” (Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, p. 68, 370, 363). É com vergonha e tristeza que somos obrigados a reconhecer que nós, professores, estávamos tão mortos espiritualmente para o Mestre divino, como estavam os professores para o primeiro anjo antes de 1844. A maior objeção feita contra permitir que o Espírito Santo instruísse os educadores quanto às formas corretas de conduzir a escola naquela época era o fato de que tais medidas desviariam os estudantes de seus cursos regulares e atrapalhariam seus planos de concluir seus cursos e receber os diplomas. Muitas instruções foram enviadas à escola sobre a questão dos cursos longos e rigorosos, mas os professores e alunos do Colégio de Battle Creek, em grande medida, afastaram-se dos ensinos do visitante celeste. Precisamos nos lembrar de que o Colégio de Battle Creek não tinha sido estabelecido no lugar que o Espírito indicara. Não foram seguidos os padrões para seu estabelecimento. A escola nem mesmo tentou introduzir e praticar as reformas educacionais importantes reveladas pelo Senhor antes de 1844, mas se contentou em implementar ali as ideias, a vida e a inspiração das instituições das denominações religiosas que haviam rejeitado a mensagem do primeiro anjo. Já lemos que “os costumes e práticas da escola de Battle Creek são disseminados a todas as igrejas, e as pulsações dessa escola repercutem por 3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia | 107 todo o corpo de crentes”. Devemos, portanto, concluir que, como todas as igrejas e crentes estavam mais ou menos sob a influência do Colégio de Battle Creek nessa época, pelo menos um grande percentual de adventistas do sétimo dia teria tratado o visitante celestial, se Ele tivesse vindo até eles sugerindo reformas, da mesma forma como os professores e alunos do Colégio de Battle Creek O trataram. Talvez, então, possamos entender por que Deus diz: “O plano para as escolas que estabeleceremos nesses anos finais da obra deve ser de ordem inteiramente diversa dos que temos estabelecido... Foi-me mostrado que em nossa obra educacional não devemos seguir os métodos adotados em nossas escolas antigas. Há entre nós muito apego a velhos costumes, e por essa razão nos achamos bem aquém de onde deveríamos estar no progresso da terceira mensagem angélica” (“The Madison School,” p. 29). Os fundadores do Colégio de Battle Creek cometeram seu erro quando não seguiram o plano que lhes foi dado pelo Senhor, mas modelaram a escola segundo as escolas do mundo ao seu redor. Nestes últimos dias, a prova virá para vocês. Vocês não devem moldar as escolas segundo o padrão que norteou o estabelecimento das escolas adventistas mais antigas, mas devem seguir o modelo divino. Se deixarmos de compreender este plano divino, não teremos qualquer participação no alto clamor. A reforma requerida: — Os professores do Colégio de Battle Creek naquele tempo receberam esta mensagem: “Uma sucessão de chuvas procedentes das Águas Vivas têm caído sobre vocês em Battle Creek... Cada chuva era uma sagrada comunicação de influência divina; no entanto, vocês não a reconheceram como tal. Em vez de sorver copiosamente das correntes da salvação, tão liberalmente oferecidas mediante a influência do Espírito Santo, vocês se volveram aos escoadouros comuns, e procuraram satisfazer a sede da alma com as poluídas águas da ciência humana. O resultado tem sido corações endurecidos na escola e na igreja... Espero, porém, que os professores não tenham ainda transposto o limite em que ficarão entregues à dureza de coração e à cegueira mental. Se forem novamente visitados pelo Espírito Santo, espero que não chamem a justiça de pecado, e o pecado de justiça. Há necessidade de conversão do coração entre os professores. Necessita-se de genuína mudança de ideias e métodos de ensino, a fim de colocá-los onde possam manter uma relação pessoal com um Salvador vivo... Deus Se aproximará dos alunos, porque são desencaminhados 108 | Estudos em Educação Cristã pelos educadores nos quais depositam confiança” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 434, 435). A instrução que veio para o Colégio de Battle Creek durante anos mostra que, ao longo de todos aqueles anos, a instituição se encontrava inconstante em muitos dos princípios importantes da educação cristã. A escola nasceu com falsas ideias de educação em sua constituição, e não se deu conta da fonte de sua fraqueza. Ela estava bebendo de correntes poluí- das em maior ou menor grau impregnadas com a sabedoria do mundo, mas desconhecia o perigo. Era portadora de infecções educacionais, e falhou também em não perceber isso. Os testemunhos diretos enviados à instituição devem convencer qualquer crente nos Testemunhos [de Ellen G. White] de que o Colégio de Battle Creek estava em grande necessidade de uma reforma educacional. O Colégio de Battle Creek fez reformas radicais pouco tempo após essas palavras serem enviadas. Eles abandonaram os cursos regulares de graduação, e, ao mesmo tempo, enriqueceram o currículo com muitas disciplinas bastante práticas para os missionários adventistas do sétimo dia, e “a liberdade na escolha de disciplinas foi considerada fundamental” (Education in the United States, p. 197). Cada aluno, com a ajuda dos professores, selecionava os programas de estudo considerados verdadeiramente essenciais à sua vida profissional. A força do corpo docente foi direcionada com intensidade sobre os assuntos que tinham sido negligenciados e para os quais Deus estivera chamando a atenção havia anos. Quando a escola se desfez dos cursos e graduações estereotipados, ela se viu muito mais capaz de seguir as instruções enviadas pelo Senhor, e o resultado foi que, em curto espaço de tempo, o Colégio de Battle Creek foi implantado numa bela fazenda. Foi-lhe dada a oportunidade de se colocar numa posição correta; então lhe veio esta declaração muito notável: “Esse é o início da reforma educacional”. “Nenhuma instituição educacional pode colocar-se em oposição aos erros e corrupções deste século degenerado sem receber ameaças e insultos, mas o tempo porá tal instituição sobre uma plataforma elevada” (General Conference Bulletin, 1901, p. 454). Estamos discutindo esse assunto extensamente porque alguns de vocês, alunos, questionam por que não estabelecemos programas de estudo com vistas à obtenção de um título acadêmico. Vocês devem saber em que chão estão pisando e por que estão ali, e deveriam se perguntar: 3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia | 109 “Estou seguindo o plano instituído pelo Colégio de Battle Creek, que afetou seriamente cada igreja da denominação, ou seguindo outro plano do qual o Senhor disse: “É o início da reforma educacional?” Titulações e a que elas conduzem: — A questão de conferição de títulos acadêmicos já foi indiretamente mencionada, pois trata-se da recompensa dos cursos tradicionais. Se não fosse pela graduação, seria impossível manter a maioria dos alunos num curso prescrito. No entanto, o elemento mais perigoso na conferição de um título acadêmico não parece ser compreendido pelos educadores cristãos que se apegam a esse costume. Um título acadêmico representa um sinal ou selo de autoridade. Na igreja cristã, “a conferição de títulos originou-se com um papa” como sinal de sua autoridade sobre o sistema educacional. Hoje os títulos são conferidos pelo Estado, e este não tem direito algum de colocar o seu selo sobre o trabalho de uma instituição, a menos que possa aprovar o sistema de ensino oferecido pela escola. A conferição de título, portanto, é um sinal de sua aprovação. Qualquer escola adventista do sétimo dia que conceda títulos acadêmicos convida, assim, a inspeção do estado, e deve aceitar o padrão do mundo e entrar em conformidade com o sistema secular de educação. Alegando dirigir escolas cristãs, buscamos ao mesmo tempo ensinar de tal forma que possamos satisfazer os requisitos do sistema secular. Com o tempo, o estado ou vai exigir absoluta conformidade com seu sistema ou se recusar a conceder as graduações. Se estivermos fazendo nosso trabalho de forma a encorajar os alunos a buscar títulos, há um grande perigo de comprometermos a verdadeira ciência da educação a fim de manter o selo ou a chancela do estado. Os adventistas do sétimo dia não estão ignorantes quanto ao fato de que, mesmo nos dias atuais, o papado tem o controle de praticamente toda a educação e, em pouco tempo, isso será abertamente reconhecido. Então, a inspeção de nossas escolas de graduação será efetuada diretamente pelo papado, e o título acadêmico, se concedido, virá novamente diretamente dessa organização. Será um selo ou uma marca da besta. Outros protestantes falharam aqui. O que nós, estudantes adventistas do sétimo dia, devemos fazer? Um educador resumiu toda a questão de conferição de títulos da seguinte maneira: “Desde o primeiro momento em que um aluno ingressou na escola até o momento final em que colará grau, professores, pais e amigos amorosos unem-se em seus esforços para estimular o aluno a superar algum outro. Os homens usam seus títulos como as 110 | Estudos em Educação Cristã mulheres usam chapéus finos, joias nos cabelos, brincos nas orelhas, anéis nos dedos e fitas esvoaçantes na brisa. Considere, por exemplo, o valor ornamental de um MBA, MA, MS ou PhD, ou o valor social de uma notável combinação de títulos decorativos como a desfrutada pelo Sr. James Brown: MA, PhD, LLD [Doutor em Direito], DD [Doutor em Divindade]. Cada um desses títulos custa tanto quanto um diamante de tamanho moderado, ou uma pérola grande (não a Pérola de grande valor), e é usado praticamente pelo mesmo motivo. Isso não indica necessariamente nada. John Smith, alfaiate; James Brown, ferreiro; Sr. Jones, inspetor, são exemplos de títulos cujo efeito na mente supera o mero efeito decorativo [dos títulos acadêmcios]. Esses indicam o ofício ou a profissão pela qual o homem ganha seu sustento”. Em razão de o título acadêmico simplesmente colocar seu possuidor numa posição que o distingue daqueles que não possuem um, e não ser uma indicação de capacidade para realizações, os homens do mundo secular, ao erigirem uma aristocracia educacional, sentem que é necessá- rio proteger a si mesmos, limitando o poder de conferi-lo. Eles dizem: “Deveria haver uma legislação para regulamentar a conferição de títulos acadêmicos”. O seguinte trecho de um relatório assinado por um bom número de reitores de universidades proeminentes apareceu nas colunas da Educational Review: “O poder de conferição de títulos não deve ser outorgado a qualquer instituição que tenha requisitos de admissão e graduação inferiores ao padrão mínimo estabelecido pela comissão, ou a qualquer instituição cujo subsídio produtivo não seja igual a pelo menos US$ 100.000,00. A lei é admirável e deve ser adotada por todos os estados da união, a fim de que a educação independente e aventureira tenha o mesmo destino dos wildcat bankings. 1 ” (Nicholas Murray Butler, Educational Review, 1891, vol. 16, p. 103). Vocês, por certo, se interessarão na seguinte declaração encontrada em uma carta escrita pelo secretário de educação da denominação adventista do sétimo dia em 1896, relativamente a uma entrevista com a Sra. Ellen G. White sobre esse assunto: 1 A expressão “wildcat banking” refere-se ao período americano compreendido entre 1816 e 1863, no qual não existia nenhum regulamento federal para os bancos. A moeda era emitida pelos bancos privados e tão somente regulada pela situação individual dos bancos estatais. Essa moeda era frequentemente acompanhada pela dívida que os bancos mantinham e mostrava-se bastante instável, o que fazia com que ela perdesse o valor. 3. Algumas Experiências Educacionais dos Adventistas do Sétimo Dia | 111 “Expliquei-lhe o significado das titulações acadêmicas e o sentido ligado a elas, e o programa geral de estudos associado a elas segundo a perspectiva de outros educadores, e sua ideia pareceu ser a de que não há nenhuma necessidade de darmos atenção a essas coisas; que precisamos educar para a utilidade aqui e no reino eterno vindouro; e que a questão com nosso povo não é se um jovem tem um título, mas se ele tem uma preparação adequada para ser uma bênção aos outros nesta obra... Eu deveria sentir-me perfeitamente livre para estruturar o trabalho segundo penso ser o melhor para os jovens e para a obra, sem estar preso à ideia de que preciso manter um programa de estudos que me permita conferir títulos acadêmicos de modo sistemático”. O objetivo de nossas escolas deveria ser o de preparar os alunos para levar a mensagem da segunda vinda de Cristo a todo o mundo, e prepará- -los com rapidez. “Sua obra não deve esperar enquanto Seus servos passam por preparações tão admiravelmente elaboradas como as que nossas escolas estão planejando ministrar” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 346). Nossa esperança é que os adventistas do sétimo dia possam livrar-se dessas armadilhas que apanharam as denominações protestantes antes de 1844. 112 | Estudos em Educação Cristã
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